O RACIONALISMO RELIGIOSO DE MALEBRANCHE

NICOLAS MALEBRANCHE (1638-1715) era membro de uma família da nobreza francesa e recebeu uma rígida educação religiosa. Estudou filosofia e teologia na Sorbonne e, em 1864, ordenou-se sacerdote. Dizem que ficou maravilhado quando leu a obra de Descartes e passou a dedicar-se, a partir de então, quase que completamente aos estudos que resultaram numa volumosa obra onde se destacam títulos como: Da investigação da verdade, Tratado Moral e Tratado do amor de Deus. Sua filosofia procurou identificar o pensamento cartesiano ao cristianismo depurando os aspectos alheios à doutrina cristã do pensamento de Descartes. Em sua busca de conciliação entre razão e fé, Malebranche desloca o centro do pensamento de Descartes do cogito para Deus. Para ele, as idéias claras e distintas, as únicas que podem verdadeiramente construir o conhecimento, equivalem às idéias no sentido platônico: são modelos perfeitos. O conhecimento sobre uma coisa não é, portanto, o conhecimento direto dessa coisa, mas da idéia que a representa. A alma conhece as coisas por meio de suas idéias somente na medida em que se une a Deus. Conhecer o mundo é aproximar a alma das idéias de Deus, que contêm na sua essência todas as idéias verdadeiras. Em outros aspectos de sua filosofia, entretanto, o pensador se distancia bastante do racionalismo cartesiano, cujas demonstrações racionais, segundo ele, só são possíveis na física e na matemática. Para o Malebranche, o erro é a causa da miséria dos homens. Assim, afirmava ser necessário denunciar os erros e suas causas através de uma análise das percepções da alma, que se realizariam por três modos distintos: os sentidos, a imaginação e o entendimento. Pregava, portanto, o exame dos erros devidos a cada uma dessas formas de percepção. Mediante tal exame seria possível encontrar um critério geral para a descoberta da verdade. Na concepção do filósofo, denominada ocasionalismo, todos os movimentos que se efetuam entre os corpos e entre a alma e o corpo teriam em Deus sua causa eficiente. Essas relações, sendo estabelecidas pela razão divina mediante uma ordem eterna e invariável, poderiam ser compreendidas pelo entendimento humano, da mesma forma que as leis científicas. Os seres particulares não seriam propriamente causas eficientes de nada que ocorre, mas apenas ocasiões para o exercício da causa única que é Deus.

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