Canudos ficava no nordeste da Bahia, no vale
do rio Vaza-Barris, em pleno sertão baiano. O movimento está diretamente ligado
às condições econômicas do Nordeste. Até então, o latifúndio, a monocultura que
utilizava técnicas rudimentares caracterizavam a estrutura rural brasileira. A
modernização da produção açucareira, que resultou da introdução de usinas no
Nordeste, expulsou milhares de camponeses de suas terras, ao mesmo tempo em que
a seca e o surto da borracha levaram a uma grande migração da população para a
Amazônia. Uma das formas de enfrentar a superexploração, a miséria e a fome foi
a constituição de grupos de cangaceiros e jagunços em torno de líderes místicos,
para poder resistir à opressão da estrutura latifundiária. Embora,
originalmente, cangaceiros e jagunços tivessem sido contratados pelos coronéis
para protegê-los, não foram poucos os casos em que passaram a contestar a ordem
estabelecida, colocando em pânico os grandes proprietários.
Os movimentos populares de cunho religioso
eram outra forma de contestar a miséria, através da luta pela salvação. A
religiosidade popular se contrapunha ao rígido catolicismo, que não respondia
aos anseios mais imediatos da população. Por volta de 1893, já havia se reunido
no arraial de Canudos um núcleo considerável de fiéis seguidores do beato
Antônio Conselheiro, que pregava a salvação para quem o seguisse. Em 1896, o
arraial possuía 20 000 habitantes, que viviam de modo semelhante ao das
comunidades primitivas cristãs, repetindo a iniciativa dos habitantes dos
antigos quilombos existentes na região. Possuíam pequenas plantações e criavam
animais para atender a suas próprias necessidades e faziam trocas com vilas
próximas, a fim de obter bens não produzidos no arraial. Para se protegerem,
organizavam milícias armadas, nas quais se destacou o comandante Pajeú, líder
de duas vitórias contra as expedições militares do governo.
Com o rápido crescimento de Canudos, a Igreja
tradicional perdia adeptos, e os latifundiários careciam de mão-de-obra.
Acusados de desejarem restabelecer o regime monárquico, os sertanejos de
Canudos passaram a sofrer violenta campanha governamental. Intelectuais da
época, influenciados por uma visão elitista, condenavam em artigos enviados
para os jornais o “fanatismo” e a degenerescência dos habitantes do arraial. O
governo da Bahia organizou, inicialmente, duas expedições militares para
dispersar o núcleo de Canudos. A primeira, comandada pelo tenente Manuel Pires
Ferreira, era composta por 100 homens e terminou desbaratada pelos
estrategistas do arraial, Pajeú e João Abade, que organizavam a resistência dos
sertanejos. A segunda expedição, com aproximadamente 600 homens comandados pelo
major Febrônio de Brito, tentou fazer nova investida contra o povoado, mas
também acabou derrotada. Os sertanejos conseguiram se apoderar das armas dos
soldados e, desse modo, ganharam ainda mais capacidade de resistência e defesa
do arraial.
No Rio de Janeiro e outras cidades, as
notícias eram transmitidas sob a ótica dos grandes latifundiários. Para a
população, Canudos aparecia como um antro de assassinos, monarquistas e
fanáticos. Organizou-se uma terceira expedição, cujo comandante, coronel
Moreira César, morreu em combate e na qual seus subordinados foram derrotados.
O problema passou então às mãos do ministro da Guerra, Carlos Bittencourt, que
preparou uma quarta expedição, com 10 000 homens fortemente armados. Depois de
três meses de cerco e munidos de canhões, os soldados invadiram o arraial. A
última expedição degolou mais de 8000 caboclos, incluindo mulheres e crianças.
Não foi feito um único prisioneiro. No Rio de Janeiro, o presidente preparava a
festa da vitória. A opinião pública começava a mudar em relação a Canudos,
tendo contribuído para isso a heróica resistência de seus habitantes. Os alunos
da Faculdade de Direito da Bahia recusaram-se a participar das comemorações da
vitória e exigiram explicações sobre a ausência de prisioneiros. Rui Barbosa
criticou o governo no Senado e, mais tarde, Euclides da Cunha denunciaria a
chacina no livro Os Sertões.
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