AS DITADURAS MILITARES DA AMÉRICA LATINA

          Na América Latina, depois da morte de Kennedy, os EUA abandonaram a política da Aliança para o Progresso e voltaram a promover intervenções e golpes de estado para derrubar regimes desafetos. Governos nacionalistas, reformistas ou que simplesmente tentassem manter uma política externa independente passaram a ser alvo da pressão desestabilizadora conduzida pelo governo norte-americano. No contexto da Guerra Fria, o não-alinhamento aos EUA era visto como uma ameaça a sua hegemonia e, qualquer que fosse a matiz do governo, era inevitavelmente rotulado como esquerdista. Uma intensa propaganda anti-comunista ajudava a convencer a opinião pública da necessidade de afastar tais governos para a segurança do continente e do “mundo livre”.
          Com a “Operação Brother Sam”, em 1964, Washington atuou ostensivamente no golpe militar que afastou João Goulart no Brasil. No ano seguinte, os EUA desembarcaram tropas na República Dominicana para impedir as reformas do presidente Juan Bosch, que afetavam os interesses das companhias americanas instaladas no país. Durante o governo Nixon, os EUA apoiaram os golpes que implantaram regimes ditatoriais no Uruguai e no Chile, em 1973, e na Argentina em 1976. No Chile, o golpe liderado pelo general Pinochet derrubou o governo socialista democraticamente eleito de Salvador Allende e instalou a ditadura mais brutal que o continente conheceu nessa época. Na Argentina, onde o regime militar instalado pelo golpe liderado pelo General Videla foi responsável pelo seqüestro, tortura e assassinato de dezenas de milhares de cidadãos, destacou-se a resistência do movimento das Mães da Praça de Maio. As ditaduras do cone sul chegaram a se articular, através da chamada “Operação Condor”, para coordenar a repressão aos grupos democráticos e esquerdistas nesses países. No fim da década de 70, a democracia havia praticamente desaparecido na América Latina.

A REDEMOCRATIZAÇÃO
          Na década de 80, o contexto era outro e a fase de maior tensão da Guerra Fria já havia sido ultrapassada. A crise econômica, o endividamento externo e as pressões sociais e a oposição política cresceram em toda a América Latina. Os sociedade civil  voltava a se mobilizar, os movimentos sociais se rearticulavam e a luta dos setores que reivindicavam a volta da democracia ganhou força. A redemocratização, entretanto, seguiu uma trajetória peculiar em cada país, em ritmos diferentes e com desdobramentos também diferentes. No Brasil, por exemplo, a abertura “lenta gradual e segura” promovida pelos militares conseguiu deixar impunes todos os envolvidos nos crimes de seqüestro, tortura e assassinato de supostos “subversivos” pelos órgãos repressivos da ditadura. Já em países como a Argentina e o Uruguai, a luta para levar a julgemento as autoridades e agentes da repressão responsáveis por estes crimes nunca cessou e muitos, de fato, foram condenados.
          A Guerra das Malvinas (1982) foi um mecanismo utilizado pelo governo militar argentino para aliviar a pressão da sociedade contra o regime ditatorial, que crescia sem parar no início da década de 80. Tropas argentinas ocuparam as ilhas, mas a Inglaterra enviou uma força militar para recuperar as Falklands que, além da superioridade bélica, contou com apoio logístico norte-americano. Recrutas argentinos despreparados e mal equipados foram facilmente derrotados pelos ingleses e a derrota na guerra precipitou a queda da ditadura argentina. No ano seguinte, as eleições foram restabelecidas e Raúl Alfonsin, da União Cívica Radical se elegeu para a presidência. O Uruguai seguiu o mesmo caminho e, em 1984, elegeu presidente o colorado Julio Maria Sanguinetti. No Brail, no mesmo ano, desenrolava-se a “Campanha das Diretas Já” que, embora frustrada, anunciava a volta das eleições livres para a presidência. Gradualmente, foram restabelecidas eleições livres em todos os países e, na década de 1990 a democracia começava a se afirmar em quase todo o continente.

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