IDEOLOGIA

      O termo ideologia foi usado, ao longo dos tempos, para denominar o conjunto dos valores e das ideias que predominam em uma sociedade. A Enciclopédia, passou a usar o termo para designar o que pretendia ser uma ciência, ou seja, o estudo sistemático das origens e do desenvolvimento das idéias e concepções. Aos poucos, a palavra passou a ser utilizada, também, para designar as idéias próprias de determinados grupos sociais ou de tendências políticas (ideologia burguesa, ideologia de esquerda, etc.). Foi Karl Marx quem deu ao termo esse sentido crítico e negativo com que, normalmente ele é utilizado hoje em dia. Para esse pensador a ideologia seria não apenas um conjunto de idéias que elaboram uma compreensão da realidade, mas também se apresentaria como um conjunto de idéias que dissimulam essa realidade, porque procuram mostrar as coisas de uma maneira parcial ou distorcida. Em última instância, a função da ideologia seria ocultar ou dissimular os conflitos sociais e reproduzir a dominação de uma classe. Nesse sentido, a ideologia seria uma forma de consciência parcial e ilusória, condicionada pela necessidade de preservar o domínio de uma classe sobre o conjunto da sociedade. Para isso, ela escamoteia ou minimiza as desigualdades sociais com uma explicação apaziguadora para as diferenças e procura exaltar a unidade da nação e a identidade comum de um povo, de modo a evitar o confronto aberto entre opressores e oprimidos. Para Gramsci, filósofo italiano marxista, a ideologia seria o “cimento” que garante a coesão social. A filósofa Marilena Chauí identifica três características básicas da noção de ideologia: a) a anterioridade, ou seja, ela pré-estabelece e prescreve as formas de pensar, sentir e agir das pessoas com base em determinados valores que são fixados b) a generalidade, que tem por finalidade produzir um consenso coletivo e a aceitação geral de algumas ideias e concepções que apresentam os interesses dos grupos dominantes como se fossem de toda a sociedade c) a lacunaridade, isto é, o discurso ideológico contém lacunas, omissões e preconceitos que possam tornar suas afirmações “verdades” naturais e universais. Alguns pensadores, como o húngaro Lukács, ressaltam o caráter prático e operativo da ideologia, ou seja, o fato dela se constituir num conjunto de valores e idéias que oferecem uma orientação para a vida prática das pessoas e a resolução de seus problemas cotidianos. Para ele, a ideologia existe desde que os homens passam a viver em comunidade e só adquire um caráter dissimulador da luta de classes quando esse conflito se estabelece na realidade social. A consciência ideológica seria, então, uma construção histórico-social que, na ausência de senso crítico, permite estabelecer uma visão ilusória da sociedade que garante a sua estabilidade.  

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