SURGIMENTO DA FILOSOFIA: CONDIÇÕES HISTÓRICAS

          É preciso considerar que o nascimento da filosofia é fruto de um contexto histórico em que se combinaram diversos elementos econômicos, sociais, políticos e culturais que resultaram, por sua vez, das transformações que o mundo grego viveu naquela época, ou seja, na passagem do Período Homérico para o período Arcaico (750-500 a.C.), quando surgiu a pólis, a unidade política que serviu de base para o desenvolvimento da civilização helênica.
           Através do comércio e da navegação os gregos encontraram outros povos, costumes e conhecimentos e perceberam que os lugares por eles descobertos eram habitados por homens comuns e não por seres lendários. Isso produziu um “desencantamento” do mundo e relativizou a crença dos gregos em seus mitos. A atividade mercantil e a invenção da moeda contribuíram, também, para o desenvolvimento de um pensamento abstrato e da lógica matemática. Além do mais, a emergência de uma nova camada social, ligada ao comércio e ao artesanato, desligada da tradicional aristocracia, por quem e para quem os mitos foram, de certo modo, criados trazia uma nova visão do mundo e das relações entre os homens.


           A utilização de uma escrita alfabética e fonética também comprova a capacidade crescente de abstração e generalização em contraste com as escritas ideográficas do oriente, que utilizavam milhares de sinais para representarem a imagem da coisa que estava sendo dita. E mais, essa escrita passa a ser acessível a qualquer um, diferente do conhecimento mantido em segredo por uma reduzida casta de sacerdotes ou de escribas, que em outras civilizações praticamente monopolizavam o conhecimento e as formas simbólicas de transmiti-lo.
            A riqueza e o ócio gerados pelo trabalho escravo nas terras, no artesanato e demais atividades urbanas se combinou, por sua vez, com novas formas de decidir sobre a vida e os destinos da comunidade. Com o surgimento da pólis, e em especial quando esta evoluiu para um regime democrático, a praça central, a ágora, passou a ser não apenas local de trocas mercantis, mas também local de encontro, diálogo, discussão. Na Assembléia (Eclésia), a decisão sobre os assuntos públicos passa a depender da força da palavra e da capacidade de persuasão dos oradores e não da sua origem ou condição social. É preciso lembrar que a democracia grega, apesar de ser muito restrita, pois excluía as mulheres, os estrangeiros e os escravos, era algo extraordinariamente avançado para os padrões daquela época, em que governavam reis e imperadores considerados como verdadeiros deuses ou seus representantes.
          Essa mudança no exercício do poder, entretanto, foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano, pois é preciso, agora, em pé de igualdade, valer-se do raciocínio e da clareza na exposição de suas idéias para poder convencer os outros. Essa nova forma de raciocinar, falar, debater não se limitou, porém, à vida política e passou a ser o critério cada vez mais importante para pensar qualquer coisa. Foi quando se afirmou a utilização do logos (a razão) para resolver os problemas da vida e para compreender o mundo.

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