A REVOLUÇÃO DE AVIS

   A crise do século XIV fez recrudescerem as tensões sociais e desencadeou um período de revoltas urbanas e rebeliões camponesas, que se espalharam pela Europa e aceleraram o processo de desagregação do feudalismo. Por outro lado, nessa época, capitalismo ensaiava seus primeiros passos e o crescimento do comércio exigia, cada vez mais, o suporte de uma estrutura política centralizada. Nesse contexto, ocorreu naturalmente uma associação de interesses entre a burguesia e os monarcas, que procuravam fortalecer sua autoridade frente ao poder local da nobreza feudal e ao poder universal dos papas.
    A crise portuguesa de 1383-85, conhecida como Revolução de Avis, foi o reflexo da situação catastrófica que tomou conta do continente nessa época. O estopim da crise foi a morte de Dom Fernando, último rei da dinastia de Borgonha, sem deixar herdeiros. Sua única filha, Dona Beatriz, havia casado com João I, o rei de Castela. Sua forte ascensão sobre a sogra, Dona Leonor Teles, que governava como regente, preocupava os portugueses. Por um lado, a união ibérica interessava aos nobres, que aspiravam aos mesmos privilégios da nobreza espanhola. Por outro lado, para a burguesia mercantil e para a chamada “arraia-miúda”, temerosas do domínio senhorial, a vinculação com a Espanha era intolerável.
   A rebelião popular foi conclamada por Álvaro Pais, burguês intelectual que tinha grande influência sobre as camadas mais humildes de Lisboa e Nuno Álvares Pereira, porta-voz do grupo mercantil. Depois de eliminar os líderes do setor hispanófilo da nobreza, o movimento colocou no poder Dom João, mestre de Avis. A regente Dona Leonor fugiu e juntou-se ao genro, que mobilizou os seus exércitos para invadir Portugal sob pretexto de tomar posse da herança de sua mulher. Sem recursos para enfrentar os castelhanos, o pequeno setor da nobreza que dirigia a revolta, apoiado pela arraia-miúda, foi sendo afastado pela burguesia mais abastada.  
    Foi com o apoio financeiro da rica camada dos mercadores de Lisboa e do Porto que o mestre de Avis obteve os recursos necessários para enfrentar as tropas espanholas. Vitorioso nas batalhas de Aljubarrota e Valverde foi aclamado, em 1385, rei de Portugal, como Dom João I. A revolução perdeu, entretanto, seu caráter popular e passou a representar os interesses da burguesia mercantil, que passou a dirigir os negócios do reino. Estabilizada a situação social e política, essa classe mercantil estava fortalecida e pronta para competir com os grupos ítalo-muçulmanos que controlavam o rico comércio de especiarias no Mediterrâneo. 

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