História da Filosofia: O Racionalismo radical de Baruch Spinoza


BARUCH SPINOZA (1632-1677) era filho de judeus luso-espanhóis que migraram para a Holanda, no início do século XVII, por causa das perseguições religiosas movidas pela Inquisição. Na sua obra mais importante, denominada Ética, expôs uma nova concepção de Deus, do homem e do mundo. Procurou demonstrar, “à maneira dos geômetras”, a natureza racional de Deus que, segundo ele, se manifesta em todas as coisas e se confunde com o mundo numa mesma substância, ou seja, é imanente. Spinoza afirma que, quando concebemos Deus como criador e causa final do mundo, isso significa, na verdade, que estamos projetando as carências humanas na esfera divina e imaginando um Deus à semelhança dos homens e suas imperfeições. Por outro lado, se Deus se identifica com a natureza universal, tudo o que existe é necessário e a liberdade do homem consiste na consciência dessa necessidade. O racionalismo radical desse pensador com relação à natureza divina, que o levou a ser censurado, excomungado e mesmo banido de sua comunidade, tem desdobramentos muito importantes no plano político e filosófico.
De acordo com o pensamento de Spinoza, o homem seria incapaz de compreender a ordem do universo e a realidade que o cerca e, por isso, sua imaginação atribui essa realidade a uma divindade transcendental, ou seja, que está acima ou além deste mundo. Desse equívoco derivariam as superstições religiosas e determinadas concepções políticas e filosóficas. Num dos seus escritos, que circulou anonimamente, o Tratado Teológico-Político, ele desvenda a natureza do poder político e religioso, submetendo a Bíblia a uma rigorosa crítica e examinando o significado histórico dos seus preceitos. Chegou à conclusão de que o conteúdo das escrituras sagradas não se refere a uma verdade, mas apenas estabelece certos princípios para a conduta humana em sociedade. Segundo ele, a imagem de um Deus senhor todo-poderoso, superior a tudo e separado do mundo, isto é, transcendente, origina e justifica o poder político que submete e domina os homens. Por isso, o sábio que um dia chegou a recusar o convite para lecionar na Universidade de Heidelberg, defendeu a liberdade de pensamento e de expressão contra a censura de autoridades que lhes são exteriores e transcendentes. Ao propor a participação do povo através de eleições, a formação de um exército popular e a separação entre o Estado e a religião, Espinosa prenunciava a democracia moderna.

“A felicidade é a compreensão lógica do mundo e da vida.”
Spinoza

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