Filosofia Moral: A Ética ao longo da História (4)


Diversas foram as reflexões éticas durante os séculos XIX e XX. Algumas delas, como é o caso da obra de Friederich Nietzsche, promoveram uma crítica radical dos valores da civilização cristã ocidental. Mas é possível encontrar um aspecto fundamental que caracteriza a maior parte das reflexões filosóficas no campo da ética: a necessidade de vincular as normas morais aos valores expressos concreta e objetivamente pelas sociedades humanas. Isso significa negar, também de maneira radical, o transcendentalismo que havia caracterizado as concepções filosóficas anteriores.

Dentre os pensadores contemporâneos cujas idéias se desdobraram no plano ético de maneira mais significativa, merecem destaque.

G.W.F.Hegel: Se Kant acreditava ser a moral uma questão pessoal, subjetiva, na qual o sujeito deve decidir entre suas inclinações e sua razão, Hegel criticou essa posição, pois, segundo ele, não se poderia desprezar aspectos históricos e sociais para uma fundamentação ética coerente.
Na concepção hegeliana, a moral se manifestaria tanto nos códigos normativos, como na cultura e nas instituições sociais. Assumiria diferentes conteúdos ao longo da história, sendo resultado, não apenas dos comportamentos individuais, mas da relação entre o indivíduo e o conjunto da sociedade. Assim, a ética em Hegel busca uma fundamentação histórico-social.

Karl Marx: Para Marx, os valores em que se fundamentam as normas morais são produto da existência social concreta e também refletem essa existência. Assim, se as sociedades se transformam em suas relações, modificam-se os valores e, com isso também as normas morais. Essas normas, então não podem ser aceitas como universais, e valores considerados absolutos como a liberdade, tem seu significado essencial modificado ao longo dos tempos. Marx comprova sua tese analisando o que dispõe a Declaração dos Direitos do Homem, do final do século XVIII: “[liberdade] é o poder que o homem tem de fazer tudo o que não prejudique os direitos dos outros”. Para ele, esse conceito explicitado de liberdade revela a ideologia burguesa, refletindo a existência de indivíduos isolados e em competição entre si (a competitividade e a concorrência são valores caros ao capitalismo).
Em síntese, a ética em Marx entende a moral como um produto da sociedade, que busca atender a uma necessidade dessa coletividade, no sentido de regular as relações sociais, conservando o status quo. Segundo esse raciocínio, é esse caráter conservador que evidencia a moral como uma das formas assumidas pela ideologia dominante.

Jürgen Habermas: Para esse pensador, a razão tem uma natureza comunicativa, sendo construída a partir de um diálogo, de uma argumentação entre os indivíduos. Seria a razão, portanto intersubjetiva (se dá na relação com o outro) e processual (não definitiva). Para que a argumentação leve a um real entendimento entre os indivíduos, produzindo um consenso, o diálogo deve ser livre, sem qualquer tipo de constrangimento a qualquer das partes, e os argumentos expostos devem ser válidos e coerentes.
A proposta de Habermas valoriza, portanto, a linguagem e a capacidade de comunicação e de entendimento entre os homens, assumindo um caráter democrático.

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