História das Crises Econômicas(2)


AS CRISES NA FASE DE FORMAÇÃO DO CAPITALISMO

Com a Revolução Comercial, no século XV, teve início a fase do capitalismo mercantil, marcada pela acumulação de capitais na Europa e por uma extraordinária expansão dos mercados. Desenvolveu-se a agricultura capitalista e a produção manufatureira. Cresceram a monetarização e a especialização da economia. Nesse período, deu-se também a gradativa apropriação dos meios de produção pela burguesia, enquanto os artesãos e os camponeses pobres foram sendo proletarizados. Surgiram os bancos e diversos mecanismos financeiros como cheque, letra de câmbio, companhias por ações, etc. Amsterdã e Londres tornam-se os principais centros financeiros da Europa. Nessa época, o continente americano foi incorporado como região periférica no processo de formação do capitalismo. Com a expansão marítima, comercial e colonial a globalização econômica ensaiava seus primeiros passos e começa a estrutura-se, pela primeira vez na História, uma rede de comércio em escala mundial.

O Estado Moderno (monarquias absolutistas) exercia forte intervenção na economia, criando monopólios e adotando práticas protecionistas. A política econômica Mercantilista, que caracterizou a etapa de formação do capitalismo, buscava acumular metais preciosos através da manutenção de uma balança comercial favorável. O Mercantilismo foi um conjunto de teorias e práticas econômicas adotadas pelos países europeus, mas nunca chegou a constituir-se como uma ciência ou um conjunto organizado de concepções econômicas. Entre os estadistas, ministros, conselheiros de Estado e pensadores dessa época, que estabeleceram diretrizes ou formularam idéias que contribuíram para, o que alguns consideram, uma “doutrina econômica mercantilista”, podemos citar: Thomas Mun, Jean-Baptiste Colbert, Jean Bodin e Azeredo Coutinho.

Além dos fatores naturais, que continuam respondendo por boa parte dos momentos de escassez e penúria, nessa etapa de estruturação do modo de produção capitalista, as crises também estão relacionadas com a transformação das relações de propriedade e das relações de produção que marcaram a passagem do feudalismo para o capitalismo. Nesse período, que corresponde à fase de formação do sistema as crises se manifestam regionalmente em função da adaptação ou desenvolvimento das novas estruturas econômicas. São crises conjunturais e localizadas que se desenrolam em períodos relativamente largos de tempo e podem ser observadas em vários contextos da Europa durante a Idade Moderna.


EXEMPLOS DAS CRISES


As Cidades italianas em meados do século XV
entraram em decadência quando os turcos tomaram Constantinopla (1453) e os portugueses abriram uma nova rota comercial para o Oriente (1498), deslocando o eixo econômico do Mediterrâneo para o Atlântico. Além de perder o controle das tradicionais rotas de comércio com o oriente, a fragmentação política, as lutas internas e as invasões da península itálica criavam obstáculos para o pleno desenvolvimento de uma economia capitalista.

A Inglaterra entre os séculos XV e XVI
viveu o processo dos “cercamentos”, que expulsou enormes contingentes de camponeses das terras comunais ou de propriedades arrendadas por valores que depreciaram com o tempo. Além da fome e da pauperização da população rural, esse processo de apropriação e exploração das terras em moldes capitalistas empurrou para as cidades uma massa de trabalhadores que não tinham outra opção a não ser vender sua força de trabalho nas manufaturas nascentes por salários miseráveis. A abundância de mão-de-obra, conjugada a outros fatores, impulsionou o desenvolvimento das manufaturas. Esse, por sua vez, arruinava os artesãos independentes e donos de pequenas oficinas, jogando também na pobreza esses trabalhadores urbanos.

Na Espanha e na França do século XVII
o processo inflacionário foi tremendamente danoso, especialmente para as camadas pobres do campo e da cidade, com a elevação dos preços em geral. A chamada “revolução dos preços” foi causada pela entrada de grande quantidade de ouro e prata naquele país. A Espanha consumia a maior parte do metal encontrado na América pagando as importações dos mais diversos produtos que fazia da França. O ouro entrado pelos portugueses no Brasil do século XVIII, de maneira semelhante, também fluiria para a Inglaterra. O processo inflacionário se refletiu na economia de quase todas as regiões da Europa Ocidental.

As economias das regiões coloniais
cujo papel era fornecer metais preciosos ou produzir artigos tropicais de alto valor comercial, enfrentavam uma crise quase que permanente ao longo dessa época. Seu papel era produzir riqueza para suas metrópoles e estavam submetidas a um rígido sistema de monopólio comercial que impunha preços baixos para os produtos coloniais e preços extorsivos para os manufaturados que precisavam importar. O tráfico negreiro também era um mecanismo importante nesse processo de acumulação de capitais nas metrópoles européias e o nível de capitalização nas colônias era baixíssimo.

Comentários

  1. Extremamente interessante e preciosos história das crises.
    Muito legal mesmo.
    A questão inflacionária, controle da moeda, etc., dura até hoje.

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