História da Filosofia: A Filosofia no Período Helenístico (2)



O CINISMO

Os pensadores do período helenístico também foram discípulos de Sócrates, mas, muitas vezes, tomaram um rumo diferente daquele seguido por Platão e Aristóteles. Levando ao extremo a crítica socrática das certezas baseadas na opinião, concluíram que o conhecimento verdadeiro das coisas é impossível. Isso ocorreu, por exemplo, com os cínicos como ANTÍSTENES(444-365 a.C.) e seu discípulo DIÓGENES(413-327 a.C.). Para eles, o conhecimento é sempre duvidoso porque busca idéias gerais, quando de fato só existem coisas singulares. Investigar, discursar, escrever ou mesmo falar não têm importância. Melhor mesmo é isolar-se do convívio com outros homens ou desprezar os valores e as convenções sociais e viver de acordo com seus próprios princípios morais. A atitude dos cínicos era de total desprezo, também, pelo conforto e pelos bens materiais, pois, segundo eles, quanto menos das coisa dependemos, mais livres e felizes nos tornamos. Nesse sentido, são famosas, por exemplo as histórias sobre Diógenes, que morava num barril.


O CETICISMO

PIRRO DE ÉLIDA (360-270 a.C.), que foi oficial de Alexandre, parece ter sido o fundador dessa corrente de pensamento, embora não tenha deixado nenhum escrito. O pirronismo também entende que a verdade absoluta é inacessível. Logo, se podemos apenas perceber a aparência das coisas, afirmavam eles, não devemos formular juízos sobre elas. Os céticos, porém, quando desistem de buscar o conhecimento, não abdicam da busca pela felicidade. Para atingi-la o homem deve manter a alma em estado de ataraxia, isto é, em serenidade, sem nenhuma preocupação ou ansiedade, desfrutando o mundo tal como nós o sentimos.


O EPICURISMO

EPICURO (341-270 a.C.) reunia seus discípulos numa escola conhecida como Jardim. Adepto da teoria atomista de Demócrito ele desenvolve uma filosofia materialista que, baseada na idéia de que só existem as coisas físicas e corpóreas (átomos) ou sua ausência (vazio). As coisas, compostas de átomos, emitiriam uma espécie de fluído que atingiria os órgãos dos sentidos, produzindo as sensações. O conhecimento seria resultado do acúmulo de sensações que a memória preserva e classifica. Para Epicuro, por conseguinte, a felicidade consiste na satisfação dos desejos físicos e no prazer que isso proporciona. Não se trata, porém, de um prazer momentâneo que pode ser seguido de desprazer e sim de um “prazer em repouso”, comedido mas constante. E mais, esse autêntico prazer é inseparável da tranquilidade da alma e da realização plena da auto-suficiência. Aquele que alcançou a ataraxia e tornou-se dono de seus atos não tem medo da morte, causa maior do medo e da infelicidade, mas que seria apenas a desagregação dos átomos e ausência de sensações.


O ESTOICISMO

Fundada por ZENÃO DE CÍCIO (336-263 a.C.), que ensinava na Stoa, foi a mais importante corrente filosófica dessa época, e expressou, mais que qualquer outra, o espírito cosmopolita de helenismo. Acabou tornando-se parte fundamental da cultura greco-romana e exerceu forte influência na formação do pensamento cristão. Segundo a concepção estóica, o mundo é logos, um corpo vivo, de tal modo que suas partes encontram-se unidas entre si e com o todo numa relação de simpatia. A relação de simpatia significa a correspondência entre aspectos da realidade. A relação do homem com o mundo, a cuja ordem ele deve se conformar, tem que ser uma relação de simpatia. Para os estóicos, portanto, a felicidade consiste em viver de acordo com essa ordem universal permanecendo indiferente aos males do mundo que não passam de aspectos isolados nesse todo racional onde tudo tem uma razão de ser. Não podendo alterar a ordem natural das coisas, o homem deve adaptar-se a ela e conformar-se. Deus seria a fonte dos princípios que regem esse mundo, e o importante é que cada um se reconheça como parte dela, aceitando com resignação e sem paixões, a sua condição nessa ordem. Essa é a verdadeira liberdade e é por esse motivo que qualquer homem,mesmo quando escravo, pode ser livre. Esse é um dos fatores que explicam porque tanto o estoicismo como o cristianismo atingiram as mais variadas camadas da sociedade, das massas às elites. A moral estóica é rígida, severa e determinista e tem por máximas virtudes a serenidade, a moderação, o equilíbrio, e o auto-domínio. O estoicismo substitui a busca do prazer pela obediência ao dever, como sentido da vida. Austeridade física e moral, firmeza de espírito, coragem frente ao perigo, e indiferença frente a dor e ao sofrimento. Um tanto espartano e um tanto romano. E mais tarde, um tanto cristão.


O PROGRESSO NAS CIÊNCIAS

Em contraste com as filosofias pessimistas e derrotistas que marcaram o período helenístico, houve, nessa época, um notável desenvolvimento científico. Nesse sentido, talvez o período mais brilhante em toda a Antiguidade, pelas descobertas que realizou. Na Astronomia destacaram-se ARISTARCO DE SAMOS que formulou os princípios do heliocentrismo, enquanto PTOLOMEU DE ALEXANDRIA elaborava a teoria geocêntrica, que exerceria uma profunda influência no pensamento medieval. HIPARCO, também natural de Alexandria, maior centro cultural do mundo helenístico, calculou com certa precisão a distância entre a Terra e a Lua. Na Geografia, ERATÓSTENES desenhou um mapa da superfície terrestre e calculou com pequena margem de erro a circunferência do planeta. Na Matemática, EUCLIDES lançou as bases da Geometria Plana. Na Física, ARQUIMEDES DE SIRACUSA estabeleceu a lei da flutuação dos corpos e formulou os princípios da alavanca, da roldana e do parafuso, dando imensa contribuição no campo da mecânica.

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