História da Filosofia: As Origens da Filosofia

O QUE É FILOSOFIA?

A palavra filosofia vem do grego com o significado de amor pelo saber. Ela se refere a um tipo de especulação e uma forma de pensar o mundo que surgiram por volta do século VI a.C. nas colônias gregas do litoral da Ásia Menor, e que exerceram profunda influência na formação da civilização ocidental moderna. A Filosofia consiste num esforço racional e sistemático para conceber o mundo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido. Essa busca de um conhecimento lógico e metódico da realidade natural e humana, ou seja, da origem do mundo, das causas das transformações na natureza ou ainda do sentido das ações humanas e que, além de uma compreensão crítica da realidade, é capaz de refletir sobre si mesmo, nasceu no mundo grego. Ela se baseia na ideia de que o homem pode compreender racionalmente o universo e corresponde à passagem do saber mítico para o pensamento racional (logos) quando os mitos parecem não dar mais respostas satisfatórias para certas questões colocadas pelos homens.

PASSAGEM DO MITO A FILOSOFIA
Os mitos são narrativas e ritos, criados pela cultura de um povo, que utilizam elementos simbólicos para explicar a realidade e dar sentido à existência humana. Eles narram, de maneira fantástica, acontecimentos ocorridos num tempo primordial, ou as façanhas de entes sobrenaturais, que fizeram a realidade existir, tal como ela é. Qualquer cultura, por mais primitiva que seja, elabora mitos que dão respostas para questões como a origem do mundo e do homem, dos animais e das plantas, do dia e da noite, do trovão e da chuva, da doença e da morte, das leis e dos costumes, etc.
As pessoas, de maneira geral, crescem aceitando sem questionar as explicações dadas pelos mitos de sua cultura, não só para a realidade física do mundo e os fenômenos da natureza, mas também para os valores, os papéis e a posição que lhe são determinados nesta ordem social, como se tudo fosse parte de uma ordem natural e inevitável das coisas. A força da mensagem dos mitos parece estar na capacidade que eles têm de sensibilizar estruturas profundas e mesmo inconscientes, do psiquismo humano. Através dos mitos, os homens criam meios para lidar com os desafios que a natureza lhes coloca, gerando uma sensação de amparo ou segurança frente à vida. Eles têm, portanto, um caráter prático e operativo, transmitindo valores e padrões de conduta importantes para a reprodução de uma formação social e sua relação com o meio ambiente. Nesse sentido, as narrativas mitológicas são sempre ricas em metáforas e reflexões sobre os homens e sua condição no mundo, mas são inquestionáveis e incontestáveis.
Mas é justamente por isso, que os estudiosos chegaram a falar de um “milagre grego”, para se referir ao surgimento da filosofia na Grécia Antiga, pois ela nasce do espanto e do questionamento, de uma necessidade de explicar e acalmar uma inquietude que nos toma, quando algo capta nossa atenção. Além disso, os pensadores gregos passaram a explicar a realidade de uma maneira diferente, pelo logos (palavra ou discurso racional) sem atribuir os fenômenos da natureza a forças divinas ou apelando para seres sobrenaturais, ou seja, desacreditando mitos.
Esse novo modo de pensar, racional e lógico, não surgiu, porém, de uma maneira repentina, rompendo bruscamente com as formas de conhecimento do passado. Desenvolveu-se num processo histórico em que, durante um longo período, as crenças mitológicas conviveram com a atitude racional que caracteriza a filosofia propriamente dita. Isso significa que já existia uma coerência e uma “lógica do mito” e que ainda existia um fundo mítico nas reflexões filosóficas, pelo menos num primeiro momento. Além disso, falar de um “milagre grego” também implica esquecer ou minimizar a enorme herança que os gregos receberam das civilizações orientais que os antecederam, e onde eles colheram os fundamentos de suas idéias.


CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O NASCIMENTO DA FILOSOFIA

É preciso considerar ainda, que o nascimento da filosofia é fruto de um contexto histórico em que se combinaram diversos elementos econômicos, sociais, políticos e culturais que resultaram, por sua vez, das transformações que o mundo grego viveu naquela época.
Através do comércio e da navegação os gregos encontraram outros povos, costumes e conhecimentos e perceberam que os lugares por eles descobertos eram habitados por homens comuns e não por seres lendários. Isso produziu um “desencantamento” do mundo e relativizou a crença dos gregos em seus mitos. A atividade mercantil e a invenção da moeda contribuíram, também, para o desenvolvimento de um pensamento abstrato e da lógica matemática. Além do mais, a emergência de uma nova camada social, ligada ao comércio e ao artesanato, desligada da tradicional aristocracia, por quem e para quem os mitos foram, de certo modo, criados trazia uma nova visão do mundo e das relações entre os homens.
A utilização de uma escrita alfabética e fonética também comprova a capacidade crescente de abstração e generalização em contraste com as escritas ideográficas do oriente, que utilizavam milhares de sinais para representarem a imagem da coisa que estava sendo dita. E mais, essa escrita passa a ser acessível a qualquer um, diferente do conhecimento mantido em segredo por reduzidas castas sacerdotais ou de escribas, que em outras civilizações praticamente monopolizavam o conhecimento e as formas simbólicas de transmiti-lo.
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A riqueza e o ócio gerados pelo trabalho escravo nas terras, no artesanato e demais atividades urbanas se combinou, por sua vez, com novas formas de decidir sobre a vida e os destinos da comunidade. Com o surgimento da pólis, e em especial quando esta evoluiu para um regime democrático, a praça central, a ágora, passou a ser não apenas local de trocas mercantis, mas também local de encontro, diálogo, discussão. Na Assembléia (Eclésia), a decisão sobre os assuntos públicos passa a depender da força da palavra e da capacidade de persuasão dos oradores e não da sua origem ou condição social. É preciso lembrar, obviamente, que a democracia grega, muito restrita, excluía as mulheres, os estrangeiros e os escravos. Essa mudança no exercício do poder, entretanto, foi fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano, pois é preciso, agora, em pé de igualdade, valer-se do raciocínio e da clareza na exposição de suas idéias para poder convencer os outros. Essa nova forma de raciocinar, falar, debater não se limitou, porém, à vida política e passou a ser o critério cada vez mais importante para pensar qualquer coisa. Foi quando se afirmou a utilização do logos (a razão) para resolver os problemas da vida e para compreender o mundo.

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