O homem pelo poder do símbolo, possui uma
inteligência abstrata, que lhe permite compreender o mundo em que vive e poder
agir de maneira consciente sobre a realidade. Se a linguagem, por meio da
representação simbólica e abstrata, permite o distanciamento do homem em
relação ao mundo, também é ela que possibilita o seu retorno ao mundo para
transformá-lo. Essa ação transformadora da natureza, na qual o próprio se
transforme e se autoconstrói é denominada trabalho. Se o trabalho é ação
transformadora da realidade, os outros animais não trabalham, mesmo quando sua
atividade cria resultados materiais, porque sua ação não é deliberada,
intencional e projetada. O trabalho humano é ação dirigida por finalidades
consciente, como uma resposta aos desafios da natureza na luta pela
sobrevivência. Quando utiliza as técnicas e os saberes que outros homens
produziram ou quando inventa outras, criando novos conhecimentos, a ação humana
se torna fonte de ideias e ao mesmo tempo experiência propriamente dita.
O trabalho, ao mesmo tempo em que
transforma a natureza, adaptando-a as necessidades humanas, altera o próprio
homem, desenvolvendo suas capacidades e potencialidades. Isso significa que,
pelo trabalho, o homem se autoproduz. Enquanto o animal permanece sempre o
mesmo na sua essência, o homem muda as maneiras pelas quais age sobre o mundo,
estabelecendo relações também mutáveis, que por sua vez alteram sua maneira de
perceber, de pensar e de sentir. Por ser uma atividade relacional, o trabalho,
além de desenvolver habilidades, permite que a convivência não só facilite a
aprendizagem e o aperfeiçoamento de instrumentos, técnicas e conhecimentos, mas
também desenvolva a espiritualidade humana e enriqueça a afetividade resultante
do relacionamento humano: experimentando emoções de expectativa, desejo,
alegria, prazer, medo, inveja, frustração, etc. o homem aprende a conhecer a
natureza, as pessoas e a si mesmo. O trabalho é, portanto, condição de
transcendência e expressão de liberdade que descola o homem da natureza e
promove sua humanização. Quando inserido em contextos sociais marcados pela
exploração e opressão de uma parcela dos homens sobre os outros, o trabalho,
pelo contrário será fator de desumanização.
Enquanto a animal permanece mergulhado na
natureza, o homem é capaz de transformá-la através da cultura. Assim, o mundo
resultante da ação humana é um mundo que não podemos chamar de natural, pois se
encontra transformado pelo homem. Cultura significa tudo que o homem produz ao
construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores
materiais e espirituais. Se as relações que o homem tem com o mundo são
intermediadas pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por
uma comunidade em determinado tempo e lugar. A cultura possibilita um processo
de autoliberação progressiva do homem, o que o caracteriza como um ser em
mutação, um ser de projeto que se constrói à medida que transcende e que
ultrapassa a própria experiência. Sendo assim, o homem não se define por um
modelo pronto ou uma determinação que o antecede. Ele não possui uma essência
já estabelecida, que o caracterizaria, nem é apenas o que as circunstâncias
fizeram dele. Ele é um ser que se lança no mundo, antecipando, por meio de um
projeto, a sua ação consciente sobre a realidade. É evidente que essa condição
fragiliza o homem, pois ele perde a segurança característica da vida animal, em
harmonia com a natureza. Dialeticamente, porém, o que representa sua
fragilidade é também sua característica mais nobre e elevada, ou seja, a
capacidade de se autoconstruir, de produzir sua própria história.
Comentários
Postar um comentário