Tal como ocorreu com os outros povos da
Antiguidade, os fenícios tiveram a sua história profundamente determinada pelas
condições naturais da região que habitavam. A geografia da Fenícia (onde está
situado o Líbano atual) pode ser descrita como uma estreita faixa de terra
costeira, quase isolada do continente por montanhas, com um litoral favorável à
instalação de portos. As terras propícias para a agricultura ou mesmo o
pastoreio eram bastante reduzidas, mas, por outro lado, a madeira abundante nas
suas florestas, o cedro, é bastante apropriada para a construção de navios, por
ser leve e resistente. Cercado pelos poderosos impérios das regiões vizinhas,
esse povo, resultante da mistura de semitas com outras raças, voltou-se
naturalmente para o Mediterrâneo e desenvolveu sua vocação marítimo-comercial.
Depois da destruição de Creta, pelos
ancestrais dos gregos, as cidades fenícias substituíram os cretenses no domínio
do comércio no Mediterrâneo oriental. No século XIV a.C., Ugarit e Biblos foram
dominadas pelos hititas e no século seguinte, os egípcios dominaram a região,
tributando as cidades fenícias. A decadência dos dois impérios vizinhos
permitiu aos fenícios um breve período de independência. Nessa época, Sidon
impôs sua supremacia sobre as demais cidades. Suas embarcações faziam comércio
(ou pirataria) por toda a orla do Mar Egeu e do Mar Negro. Por volta de 1.100 a .C. Sídon entrou em
declínio, atacada pelos “povos do mar” e, pouco depois, destruída pelos
filisteus. No século X a.C., a cidade de Tiro, governada pelo rei Hiram,
estabeleceu sua liderança comercial em toda a bacia do Mar Mediterrâneo,
fundando inúmeras feitorias e colônias. A mais importante delas foi Cartago,
fundada em cerca de 800 a .C.,
no norte da África. Cruzando Gibraltar, os navegadores tírios chegaram até a
Bretanha e, posteriormente, realizaram o périplo africano. No século VII a.C.,
a Fenícia foi dominada pelos assírios e, no século seguinte, pelos caldeus. Em 539 a .C., Ciro transformou a
região numa província persa.
Os fenícios não chegaram a construir um
Estado centralizado, organizando-se, politicamente, em cidades-estado
autônomas. Nos seus primórdios, por volta de 1.500 a .C., Ugarit, Biblos,
Sidon e Tiro, as mais importantes cidades da Fenícia, eram governadas por um
rei que tinha poderes limitados por um conselho formado pelas ricas famílias de
mercadores e de grandes proprietários. É o que se denomina talassocracia, isto é, um governo que era exercido em favor de uma
oligarquia de ricos armadores e mercadores ligados ao comércio marítimo. A
corporação dos sacerdotes e a nobreza tradicionalmente ligada à terra também
compunham a elite da sociedade fenícia, que era bastante polarizada.
Além de camponeses e marinheiros, boa parte
da população fenícia era constituída por artesãos independentes e, também, por
trabalhadores das manufaturas instaladas nas cidades. As matérias primas
importadas eram transformadas em armas e ferramentas e utensílios de bronze e
de ferro, antes de serem exportados. Artigos de luxo, jóias, adornos e tecidos,
tingidos com a famosa púrpura que produziam, também faziam parte das exportações
que enriqueciam as cidades fenícias.
Os
fenícios não desenvolveram uma cultura própria, original na arte ou evoluída
nas ciências. Assimilaram a matemática e a astronomia dos mesopotâmicos e
egípcios para fins práticos na navegação e na construção naval. Nas artes e na
arquitetura, é possível perceber, também, uma profunda influência de outros
povos. Essa civilização de navegadores, paradoxalmente, não possuía deuses
marinhos. A religião, politeísta, incluía o culto à divindade protetora de cada
cidade e também aos deuses que representavam as forças da natureza: El, o criador de todas as coisas, Baal, deus do trovão e da chuva, Astate, deusa da fecundidade.
Sacrifícios sangrentos (inclusive humanos) faziam parte, inicialmente, dos
rituais religiosos. A maior contribuição dos fenícios para o processo
civilizatório foi a invenção de um sistema simplificado de escrita, composto
por 22 sinais, o que, obviamente, está relacionado com a necessidade de
facilitar a comunicação e o comércio com outros povos. Mais tarde, os gregos
adicionaram as vogais e difundiram o alfabeto fenício.
Professor, "descobri" seus vídeos esta semana, me assustei com o blog, tão completo.
ResponderExcluirGratidão professor, pela produção e compartilhamento de tanto conhecimento.