A DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA E DA ÁSIA

             Enfraquecidas pelos efeitos das duas guerras mundiais, as potências coloniais européias não conseguiram mais deter os movimentos de independência nas suas colônias na Ásia e na África. É preciso evitar, entretanto, dois equívocos que o termo “descolonização”, utilizado para denominar o processo que levou ao surgimento de mais de uma centena de países nas décadas do pós-guerra, poderia suscitar. Em primeiro lugar, é preciso salientar que a autonomia das colônias foi mais uma contingência do que uma opção para as metrópoles, ou seja, não foi por iniciativa, bom senso ou mesmo boa vontade das potências colonialistas que essa emancipação aconteceu. Pelo contrário, em alguns casos as potências européias opuseram forte resistência e tentaram a todo custo impedir a independência de suas colônias. Em segundo lugar, cabe lembrar que, na maioria das vezes, não houve uma alteração, de fato, das relações de exploração nessas regiões, ou seja, a autonomia política não representou uma ruptura das relações de dependência econômica.

   Movimentos de diversos tipos lutaram pelo direito dos povos coloniais se auto-governarem e preservarem sua identidade cultural. Eles foram influenciados por ideologias transplantadas como o nacionalismo, o liberalismo e o socialismo que foram naturalmente adaptadas para justificar a luta dos povos africanos. Esses movimentos precisaram afirmar o orgulho da negritude e se beneficiaram do fim do mito da superioridade do branco europeu, que também foi um dos efeitos da II Guerra Mundial. Por outro lado, as potências européias, exauridas pelos efeitos do conflito, não tinham mais condições de conter os movimentos separatistas, embora em muitos casos tenham tentado reprimi-los ou negociar com os setores mais moderados uma autonomia limitada. Por fim, é preciso considerar que, no contexto da Guerra Fria, o processo de “descolonização” sofreu também a influência e pressão, mais ou menos ostensiva, por parte das superpotências. De fato, Washington e Moscou normalmente apoiaram ou reconheceram a soberania dos novos países que surgiam procurando, de diversas formas, atraí-los para a sua esfera de influência. É preciso considerar ainda o importante apoio recebido por parte da Organização das Nações Unidas que tinha sido fundada ao final da II Guerra Mundial. A ONU consagrou entre os seus princípios o direito à autodeterminação dos povos e garantiu para os novos Estados que nasciam um assento na sua Assembléia Geral e participação nos seus diversos organismos.

         Em muitos casos, uma elite nativa formada nas universidades européias assumiu a direção política desses novos países, administrando os negócios e investimentos das empreses da antiga metrópole ou dos grupos multinacionais que se instalam para explorar seus mercados e riquezas naturais. Quando, por outro lado, a independência foi conduzida por movimentos de fato comprometidos com a soberania e os interesses nacionais, as potências capitalistas, em especial os EUA, passaram a pressionar e a boicotar esses governos, usando todo tipo de expediente para desestabilizá-los, incluindo o assassinato de seus líderes. Na Conferência de Bandung (Indonésia), realizada em 1955, os países do chamado “terceiro mundo” que começavam nascer do processo de libertação colonial procuraram estabelecer mecanismos de apoio e cooperação entre si, de modo a não se submeter ao domínio das superpotências. Na Conferência dos Não-Alinhados destacaram-se especialmente os líderes da Índia (Nehru), da Indonésia (Sukarno), e do Egito (Nasser). Também aderiram ao movimento países como a Iugoslávia (Tito) e, mais tarde, Cuba (Fidel Castro).

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