A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE DE CLASSES

    O desenvolvimento de uma economia produtora, a partir da “revolução agrícola”, da pecuária e do artesanato, permitiu a normalização e a organização regular das condições de reprodução da vida humana e o primeiro “salto” de crescimento demográfico experimentado pela humanidade. Além disso, tornou possível a produção, pela primeira vez, de um excedente econômico que favoreceu uma maior divisão e uma verdadeira especialização do trabalho.
    A capacidade de produzir excedentes alimentares, aliada à gradual especialização do artesanato, teve também outro desdobramento importante: o desenvolvimento das trocas que prenunciaram o comércio. Ainda no neolítico, já existiam rotas mais ou menos regulares que ligavam regiões próximas ou mesmo mais distantes, o que contribuía para difundir, também, técnicas, conhecimentos, crenças e idéias.
   As transformações que ocorreram ao longo do neolítico fizeram desaparecer, aos poucos, o comunismo primitivo que caracterizou a sociedade pré-histórica. Surgiram instituições como a família, organizada em forma de clãs sob a autoridade patriarcal. O clã era constituído por todas as pessoas que descendiam de um mesmo antepassado e estavam ligadas entre si por laços de parentesco. O membro mais velho, o patriarca, exercia uma autoridade política, jurídica e religiosa sobre o grupo. A união de vários clãs, distribuídos em várias aldeias, formava uma comunidade maior que era a tribo.

   Em determinadas circunstâncias, a produção de excedentes econômicos (certa abundância e a possibilidade de armazenar alimentos) permitiu a gradativa separação entre o trabalho braçal e o trabalho intelectual ou especializado em funções dirigentes. Enquanto a maioria da população continuou vinculada ao trabalho produtivo direto, na agricultura, no pastoreio ou no artesanato, alguns passaram a exercer funções administrativas, religiosas, militares.
   Por outro lado, esse grupo dirigente, que vai se reproduzindo aos poucos como uma classe dominante, foi se apropriando de parte das terras e rebanhos que, até então, constituíam propriedade coletiva de toda a comunidade. O surgimento da propriedade privada conjugada com a separação entre o trabalho manual e o intelectual originou as primeiras diferenciações dentro da sociedade. Esse processo levou ao aparecimento das classes sociais e, portanto, ao gradativo desaparecimento da sociedade comunal (igualitária).
     Em outras sociedades, como entre os gregos e os romanos, a divisão desigual da terra comunitária entre as famílias que formavam um clã também levou, com o tempo, ao aparecimento de uma sociedade de classes. Outro fator que contribuiu para acentuar essa tendência foi o surgimento da escravidão. Seja pela guerra, quando se escravizam outras populações ou povos vizinhos depois de derrotá-los, seja pela instituição da escravidão por dívidas, que permitia escravizar aqueles que, dentro de uma comunidade, não conseguiam pagar seus credores.
      Com a formação das primeiras sociedades estratificadas e hierarquizadas surgiram duas instituições importantes que marcaram a passagem para a civilização: o Estado, dirigido por altos funcionários e chefes guerreiros, cuja função passou a ser a defesa e a manutenção da ordem interna (e a conquista externa) e a religião, controlada por uma casta de sacerdotes, que refletiu a passagem de uma época em que ainda era muito precário o domínio sobre a natureza (“espíritos” bons ou maus habitavam todas as coisas), para uma fase em que o homem passou a acreditar que poderia influenciar os acontecimentos através do culto aos deuses e da realização de rituais.
   A formação do Estado, e com ele o surgimento dos primeiros registros escritos feitos pelo homem, marca o aparecimento das primeiras civilizações. Nessa época, ou seja, no IV milênio antes de Cristo, a substituição de instrumentos de pedra por instrumentos, ferramentas e armas de cobre, de bronze e, depois, de ferro assinalam o início da Idade dos Metais, que se prolonga pelo período histórico propriamente dito. Por volta de 3.200 a.C., no sul da Mesopotâmia (atual Iraque) nasceram as primeiras cidades, centros religiosos em torno de um templo, local de intenso comércio e artesanato especializado. A “revolução urbana” coincide, portanto, com a passagem da barbárie para a civilização e o início da História.

Comentários