Grandes Batalhas: Batalha de Sedan (1870)


Napoleão III estava convencido de que a França poderia derrotar a Prússia e que a vitória melhoraria sua declinante popularidade e, assim, declarou guerra aos prussianos em 19 de julho de 1870. Em 1º agosto, otimista com a lendária bravura do soldado francês, ordenou o avanço sobre território inimigo. Foi o primeiro erro numa série de operações mal concebidas. Apenas após alguns dias de invasão, os franceses foram obrigados a recuar. Dois de seus principais exércitos lutaram e perderam quatro batalhas seguidas. Após o último desses reveses, em Gravelotte, em 18 de agosto, as tropas francesas viram-se envolvidas pela movimentação prussiana e, duas semanas mais tarde, estavam isoladas na cidade fortificada de Sedan. A posição era estratégica, pois dominava a área do Rio Meuse, última barreira natural entre a fronteira prussiana e Paris, a capital da França. Ali, concentrava-se o destino da guerra. Todos sabiam disso e mesmo Napoleão III, doente, dirigiu-se para lá.

Cerca de 120 mil franceses foram cercados por 200 mil prussianos em Sedan. Os prussianos instalaram seus canhões nas montanhas em torno de Sedan e iniciaram intenso bombardeio, além de ocupar a vila de Floing, a 2 quilômetros dali. Para romper as linhas inimigas e escapar do cerco, os franceses precisavam tomar o vilarejo. Para chegar a Floing, a cavalaria francesa foi obrigada a atacar descendo uma ladeira, num terreno tão irregular que seus cavalos escorregavam e caíam. As táticas francesas eram pouco eficazes e consistiam no emprego de duas linhas maciças de cavaleiros com sabre em punho, realizando ataques sucessivos para tentar romper as defesas prussianas. Bem treinados e disciplinados, os prussianos resistiram às seguidas cargas da cavalaria francesa em Floing, causando pesadas baixas nas forças inimigas, atingidas pelo fogo cerrado de fuzis. Por duas vezes seguidas, os ataques franceses foram repelidos. Detida pelos fuzis prussianos, a terceira e decisiva carga francesa recuou. Os prussianos suspenderam o fogo, poupando os sobreviventes. Instalado em posição privilegiada, numa colina perto de Sedan, Guilherme I, rei da Prússia, assistiu ao desenrolar da batalha e comentou a coragem dos combatentes

Napoleão III aceitou a derrota, ordenando a rendição. As baixas francesas somaram 3 mil mortos, 14 mil feridos e 21 mil desaparecidos ou capturados, contra menos de 9 mil prussianos feridos ou mortos. Bismarck e Guilherme I receberam o imperador da França que depois de curta reunião seguiu para o cativeiro pela Bélgica. Os 83 mil franceses sobreviventes não tiveram o mesmo privilégio. Debaixo de chuva, marcharam para um campo de prisioneiros, que ficaria conhecido como le camp de la misère (o campo da miséria), pelos tormentos provocados pela fome e por doenças. Muitos deles seriam depois rearmados para, com ajuda dos prussianos, entrarem em Paris para sufocar a Comuna instalada pelo povo, num verdadeiro banho de sangue que se estendeu por dias.

Terminava também uma era na história das táticas militares. Formações compactas de soldados e cargas de cavalaria, de tanta importância em séculos anteriores, seriam a começar dali abandonadas pelos estrategistas europeus, substituídas pelo poder de fogo das novas armas de infantaria, pelas linhas de barragens de artilharia e pela mobilidade das tropas, principais lições dos quase dez meses de guerra entre a França e a Prússia.
A Guerra Franco-Prussiana passou à história como o conflito que destruiu um império e criou outro. A queda de Napoleão III resultou na proclamação da Terceira República e acabou com a hegemonia francesa na Europa continental. Além de pagar pesadas indenizações, a França foi obrigada a ceder os territórios da Alsácia e Lorena. Do outro lado, em território alemão, a vitória provocou uma grande onda de entusiasmo patriótico, que resultou na unificação da Alemanha – a região era formada por 36 microestados, dos quais o mais forte era a Prússia. Estavam lançadas as bases para o imperialismo alemão nas décadas seguintes. Os anos entre 1871 e 1914 foram marcados por uma paz instável, com a França determinada a recuperar a Alsácia e Lorena. Franceses e alemães permaneceram à beira de novo choque armado e essa animosidade seria uma das motivações para a Primeira Guerra Mundial (1914–1918).

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