História da Filosofia: Os primeiros humanistas e a Filosofia do Renascimento

No século XV, Florença transformou-se no centro mais importante do Renascimento italiano.Governada por poderosos mecenas, os Médici, a cidade atraiu artistas e sábios de toda Europa. A Academia florentina, centro de cultura dedicado às discussões e ao estudo da filosofia, reabilitou o pensamento de Platão para rejuvenescer o cristianismo libertando-o dos impasses do aristotelismo escolástico e do obscurantismo do pensamento medieval. O humanismo renascentista colocou o homem no cerne de suas preocupações éticas e da sua produção estética. Reinterpretou a existência do homem que passou ser entendido como a obra-prima de Deus e o centro do universo.

NICOLAU DE CUSA (1401-1464) foi o primeiro representante desse neoplatonismo. Nascido no interior da Alemanha, ele estudou em várias universidades, tornou-se bispo e, mais tarde, foi nomeado vigário-geral de Roma, sede do papado. Seu empenho em conciliar as várias tendências em que se divide o cristianismo, naquela época, demonstra uma das características do humanismo renascentista: a disposição para a tolerância religiosa. Para Nicolau, as diversas religiões, que a razão lógica separava em seitas conflitantes são, de fato, expressões aproximativas de uma mesma verdade e da revelação divina.

MARSILIO FICINO (1433-1499), homem de grande cultura e erudição, encarregado de organizar a Academia florentina, traduziu os diálogos de Platão, a obra de Plotino e os textos de um tal Hermes Trimegisto, um suposto sábio do Antigo Egito. Na sua obra se evidencia uma outra característica interessante do humanismo renascentista, ou seja, a convivência do cristianismo com elementos pagãos da Antiguidade, especialmente com os misticismos da tradição judaica (Cabala) e da tradição egípcia (hermetismo). Essa atitude é muito típica dos sábios dessa época, que com muita naturalidade fundem magia e ciência, associando a astronomia com a astrologia, a química com a alquimia, etc.

PICO DELLA MIRANDOLA (1463-1494) representa outro traço marcante do pensamento renascentista que é a exaltação da dignidade humana e a crença nas potencialidades do homem. Sua obra mais importante intitula-se, justamente, Discurso sobre a dignidade do homem. Para ele, o platonismo mostra a capacidade que o ser humano tem de elevar-se ao mundo inteligível e, assim, através da razão unir-se a Deus. E mais, o humanista italiano afirma que, não tendo recebido do Criador nenhum lugar ou natureza que lhe fossem próprios, ao contrário das outras criaturas, encontra-se livre para se apropriar do mundo como melhor lhe aprouver.

PIETRO POMPONAZZI (1462-1525) foi o expoente de outra corrente da filosofia renascentista, que teve seu centro mais importante na cidade de Pádua. Enquanto em Florença se resgatava o pensamento de Platão, os paduanos cultivavam um aristotelismo que procura se desembaraçar da rigidez da escolástica medieval. Pomponazzi não procurava justificar a fé. Argumentava que os dogmas religiosos não podem ser demonstrados pela razão e que os milagres são, na verdade, fenômenos naturais aos quais os ignorantes atribuem um caráter divino. Com base nesse princípio de uma dupla verdade, separa a religião da ciência e da filosofia que, segundo ele, devem investigar a natureza e sua relação com o homem, que é tomado como fim em si mesmo.

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