A PASSAGEM DA IDADE MÉDIA PARA O MUNDO MODERNO
Na Idade Moderna aprofundaram-se as transformações que tiveram início na Baixa Idade Média. Ao longo desse período coexistiram elementos que sobreviveram do mundo feudal com elementos que prenunciam o mundo capitalista. A Revolução Comercial abriu para os europeus novos mercados graças à expansão marítima e colonial liderada pelos portugueses e espanhóis e logo acompanhada pelos holandeses, ingleses e franceses. A descoberta e a conquista das novas terras trouxeram para a Europa novos produtos, novas idéias e, também, muito ouro e muita prata. A exploração colonial, o tráfico de escravos e a pirataria, o saque e a pilhagem de populações nativas promoveram uma gigantesca acumulação de riquezas nas mãos da burguesia européia. Ao mesmo tempo, essa classe se apropriava na Europa, gradualmente, de todos os meios de produção. A exploração da terra em moldes capitalistas e o desenvolvimento manufatureiro promoveram a expulsão dos camponeses das propriedades e a ruína dos artesãos independentes, jogando grandes contingentes populacionais na miséria e aumentando a massa de trabalhadores assalariados disponíveis para vender sua força de trabalho nas cidades.
Conciliando os interesses da burguesia em ascensão com os privilégios da nobreza decadente, os monarcas afirmaram seu poder sobre cada nação. Se, por um lado, a burguesia era beneficiada com o estímulo ao desenvolvimento comercial e manufatureiro, com os monopólios e práticas protecionistas da política econômica mercantilista, por outro, a nobreza recebia cargos, postos e funções na administração pública ou era atraída para a corte, sendo sustentada com pensões concedidas pelo monarca. Centralizando em suas mãos a tributação e o direito de cunhar moedas, a legislação e a administração da justiça além de exércitos regulares e poderio naval, as monarquias nacionais evoluíram para o sistema absolutista de governo, que teve seu maior exemplo na figura de Luis XIV, o rei sol, que governou a França no século XVII.
O RENASCIMENTO E A REFORMA
Tanto o Renascimento Cultural quanto a Reforma Protestante refletiram, no plano ideológico, as profundas transformações econômicas, sociais e políticas que ocorreram na Europa da Idade Moderna. O Renascimento foi o movimento cultural que marcou a passagem da Idade Média para a Modernidade. Teve início na Itália no século XV e expandiu-se, no século XVI, para outros países da Europa. A Reforma protestante começou na Alemanha em 1517, quando Lutero publicou suas teses contra a venda de indulgências, e propagou-se para outras regiões do continente nas décadas seguintes, sempre condicionada por fatores econômicos sociais e políticos.
Em oposição ao teocentrismo medieval, o renascimento teve uma produção cultural essencialmente antropocêntrica. Valorizou o homem e suas realizações e desenvolveu uma forte crença nas potencialidades humanas e na sua capacidade de conhecer o mundo e domina-lo através da razão. Distanciando-se do misticismo medieval o racionalismo renascentista forjou a convicção que o homem pode, através do pensamento racional, compreender a realidade e colocar o mundo à sua disposição. Além disso, e como reflexo do nascimento de uma economia baseada na concorrência e de uma sociedade burguesa, o humanismo renascentista se opôs ao coletivismo medieval exacerbando o individualismo e o hedonismo, isto é, a busca do prazer, da riqueza e da auto-realização como finalidades da existência. A cultura clássica serviu de modelo e inspiração para os artistas e intelectuais dessa época, mas esse classicismo não significa um retorno aos valores da Antiguidade. Na verdade a herança da cultura clássica greco-romana foi re-elaborada e embasou uma nova interpretação do homem, da existência e do mundo.
O protestantismo adaptou o pensamento religioso à nova realidade econômica e social que nascia na Europa com o advento do capitalismo. Enquanto a ética católica, baseada na teoria do justo preço, condenava a usura e a busca do lucro o protestantismo, pelo contrário, passou a justificar as práticas capitalistas legitimando a acumulação de riquezas por parte da burguesia. Tal como o Renascimento, a Reforma teve um forte componente individualista, já que estabeleceu uma ligação direta entre o homem e Deus, eliminando a intermediação do clero. A livre interpretação da Bíblia e a simplificação do culto são outras características das seitas protestantes que se ramificaram em várias tendências. A Igreja Católica reagiu com vários instrumentos para conter a expansão do protestantismo. Além de um processo de moralização interna desencadeado pelo Concílio de Trento (1545-1563) utilizou, também, o Tribunal da Inquisição para reprimir as heresias e a Companhia de Jesus para difundir e defender o catolicismo.
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