A aquisição de significado político pode ser observada diariamente. Quando um movimento salarial de trabalhadores consegue transformar suas reivindicações, ou parte delas, em aumentos efetivos, em um direito institucional e regulamentado legalmente, revela um significado político. Transformou seu interesse social num objetivo político, pois interferiu nas atribuições do estado – a lei salarial. Quando o governo usa um pelego para refrear estas mesmas reivindicações, esta é uma atividade de significado político, embora não seja efetuada diretamente pelas mãos do Estado. Com ela se evita que reivindicações salariais se tornem conquistas políticas. As mulheres que lutam contra sua descriminação no trabalho, no voto, ou em qualquer outra atividade social ou individual conferem significado político à sua atuação, pois lutam por direitos a serem institucionalizados pelo Estado. Da mesma forma acontece com o padre ou o leigo que se engaja na luta “pelos pobres”; com o movimento social que luta por saneamento; o estudante que reivindica verbas, o popular que combate o aumento de preço, o professor que quer eleger o reitor da sua universidade, etc.
O que todos estes exemplos têm em comum é que a grande diferença entre interesses sociais e objetivos políticos reside em que os primeiros são singulares, específicos, enquanto os últimos assumem validade geral. Os aumentos valerão para todos, mesmo para os que não pediram; os direitos das mulheres não se aplicarão apenas às feministas, etc. O momento decisivo na aquisição de significado político por um movimento social residiria na capacidade de dirigir coletivamente os interesses sociais específicos como objetivos políticos amplos. Um significado político exige da sociedade civil e sua função dirigente. Desta forma, diferentemente ad atividade no âmbito da sociedade política, do Estado, que divide a sociedade entre dominantes e dominados, a atividade política da sociedade civil produz dirigentes e dirigidos.
"Todas as instituições da sociedade civil reproduzem, sem exceção, esta relação: sindicatos, partidos, organizações comunitárias. Ao contrário das relações dominante-dominado, baseadas na coerção sob a tutela do Estado, a relação dirigente-dirigido fundamenta-se no consenso, na persuasão, no convencimento público para adquirir força."
(O que é Política)
“A democracia seria um objetivo já presente nos movimentos de base. Todos os participantes, garantidas as diversidades de seus interesses e respeitada a sua livre expressão, sentem que aquele movimento é efetivamente seu e que ele tira a sua força coletiva da participação e representação que confere a cada um em particular. Esta estrutura seria a fonte de seu poder político.”
(O que é Política)
“Se, numa democracia, um partido tem peso político, é porque tem força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um sindicato tem peso político, é porque tem força para deflagrar uma greve. Assim, força não significa necessariamente a posse de meios violentos de coerção, mas de meios que me permitam influir no comportamento de outra pessoa. A força não é sempre (ou melhor, é rarissimamente) um revólver apontando para alguém; pode ser o charme de um ser amado, quando me extorque alguma decisão (uma relação amorosa é, antes de mais nada, uma relação de forças (...). Em suma, a força é a canalização da potência, é a sua determinação.” (Gérard Lebrun - O que é poder)
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