NA IDADE MÉDIA
A ética cristã da Idade Média diferencia-se radicalmente da ética grega no sentido de abandonar o racionalismo voltando-se para a subjetividade. A moral passou a ser encarada na relação de cada indivíduo com Deus. Isso significa que a autonomia, que caracterizava a relação dos indivíduos com a moral na Antiguidade, é substituída pela heteronomia, ou seja, vem de “fora” e está pré-determinada. A liberdade, ou melhor, o livre-arbítrio de uma pessoa resume-se agora a seguir ou não uma moral que já está definida pela revelação divina.
Na filosofia medieval destacaram-se, fundamentalmente, dois grandes pensadores:
▪ Santo Agostinho: Sua filosofia retoma e reelabora noções de Platão, adequando-as aos preceitos do catolicismo. Assim, imortalidade da alma passa a ser concebida em uma perspectiva cristã e a idéia de purificação da alma se configura na necessidade de elevação ascética (refreamento dos prazeres mundanos). Desdobram-se também dessa influência platônica outros elementos básicos da moral agostiniana. Ela afirma, por exemplo, a superioridade da alma, que é eterna e foi criada por Deus para conduzir o homem no caminho do bem, sobre o corpo que é transitório e tem uma inclinação para o mal. Na sua obra intitulada A Cidade de Deus Agostinho concluiu que esta corresponde ao mundo perfeito da Idéias de Platão, enquanto a cidade dos homens, essa em que vivemos, é uma cópia imperfeita corrompida pelo pecado. Essa luta entre o mal, só terminaria com o juízo final e a vitória de Deus e das forças do bem.
▪ Santo Tomás de Aquino: Retomou a idéia aristotélica de ser a felicidade o fim último dos homens, mas adaptou-a aos preceitos do catolicismo, considerando que Deus seria a fonte de toda a felicidade. Para esse teólogo, cuja obra acabou se transformando, mais tarde, na doutrina oficial da Igreja Católica, não existiria contradição entre fé e razão. Ambas aproximariam o homem da verdade e, portanto, de Deus e da felicidade.
Outro grande aspecto da ética cristã medieval, originado na filosofia agostiniana mas também admitido no tomismo, é a tese do livre-arbítrio. Para explicar a origem do mal, os teólogos afirmaram que cada um é livre para aproximar-se ou afastar-se de Deus (ou seja, do bem). Assim, justifica que o mal emana dos homens, nunca de Deus, que seria infinita bondade. Destacamos aqui o fato de que a noção de liberdade, antes abordada pelos gregos em sentido coletivo, passa a assumir um caráter de escolha individual.
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