SÃO TOMÁS DE AQUINO (1221-1274) foi o filósofo que levou a escolástica medieval ao seu ponto culminante. Filho de uma família italiana nobre, estudou na Universidade de Nápoles e ingressou na ordem dos dominicanos. Estudou também na Universidade de Paris onde entrou em contato com o pensamento aristotélico, introduzido ali por ALBERTO MAGNO (1206-1280). Estudou ainda em Colônia, na Alemanha, e doutorou-se em teologia. Lecionou em Paris e depois em diversas cidades italianas até o ano de sua morte. Produziu uma obra vastíssima, onde destacam-se os comentários que fez à obra de diversos autores, tratados como O Ente e a Essência, Questões Discutidas sobre a Verdade, Suma contra os Gentios e sua obra máxima, embora inacabada, que foi a Suma Teológica.
O tomismo estabeleceu um perfeito equilíbrio nas relações entre a fé e a razão, a teologia e a filosofia. Ele consegue distinguir a esfera de cada uma, sem necessariamente separa-las. Para ele, enquanto a filosofia utiliza as luzes da razão natural, a teologia se baseia nas luzes da razão divina, presente na revelação. Embora exista diferença entre as verdades da razão e as verdades da revelação elas, em princípio, não se contrariam. E se isso, inevitavelmente acontecer, Tomás não hesita em concluir que a primeira está equivocada pois a razão humana é imperfeita e nunca pode se opor à verdade revelada, mesmo quando ela nos é incompreensível, porque é divina e perfeita.
Enquanto o pensamento de Santo Agostinho foi diretamente influenciado por Platão, a obra de Tomás de Aquino tem como base o pensamento de Aristóteles. A integração entre o aristotelismo e o cristianismo foi uma tarefa mais complicada. E a Igreja, inicialmente, opôs resistência à influência de uma nova interpretação, advinda do mundo árabe e fora da tradição agostiniana. Mas com o tempo, as concepções aristotélicas acabaram penetrando nas universidades e, mais tarde, Tomás foi canonizado, e sua obra adotada como filosofia oficial da Igreja Católica.
São Tomás organiza um conjunto de argumentos com o objetivo de demonstrar e provar racionalmente a existência de Deus. Buscou na filosofia aristotélica elementos que explicassem os principais aspectos do cristianismo. Assim, para o tomismo, é preciso partir da realidade sensível, captada por nossos sentidos, e estes nos mostram um mundo em movimento. Mas segundo Aristóteles nada se move por si mesmo e, portanto, a causa do movimento tem, por sua vez, uma outra causa e assim sucessivamente. Ora, isso nos levaria ao infinito, a menos que se admita que existe uma causa primeira, um motor imóvel: Deus. A causa de todas as coisas pode ser entendida da mesma maneira. Se tudo tem uma causa eficiente, deve existir uma causa primeira que não é causada e que só pode ser Deus.
Os nossos sentidos percebem ainda que as coisas no mundo nascem, crescem e morrem. Mas se todas as coisas que existem podem deixar de existir, então em algum momento nada existiu, o que seria absurdo, pois um ser sempre surge de um outro ser. E mais, se as coisas deixam de existir, isso significa que a existência não lhes é necessária ou essencial, mas apenas uma possibilidade contingente. Tudo isso implica a existência de um ser que sempre existiu, ou melhor, cuja existência seja necessária pois coincide com sua essência. Deus é eterno e imutável pois, ainda de acordo com Aristóteles, é ato puro.
Costumamos também comparar as coisas constatando que umas são mais ou melhores que outras. Isso supõe que elas se diferenciam quantitativa e qualitativamente e, logo, deve existir um padrão, algo que sirva de referência e permita medir e determinar a grandeza e o grau de perfeição dos seres. A hierarquia das coisas relativas depende então de um ser que seja medida absoluta e definitiva de perfeição. E mais uma vez estamos nos referindo à Deus.
Por fim, essa hierarquia apresenta uma ordem, em que cada ser tem uma função, cumpre uma finalidade. Os seres se desenvolvem e se reproduzem constantemente e buscam , mesmo inconscientemente, seu lugar natural. Se a finalidade de cada ser é assim , inexoravelmente cumprida, deve haver um ser inteligente que conheça, organize e dirija o mundo de acordo com sua finalidade. Deus é onisciente, onipresente e onipotente.
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