A Batalha de Canas (Cannae), travada a 2 de agosto de 216 a.C., onde os cartagineses venceram os romanos, foi uma batalha decisiva da Segunda Guerra Púnica. Aníbal, general cartaginês, invadira a Península Itálica, e após infligir várias derrotas aos exércitos romanos, ficou sem ação diante da contemporização do ditador Quinto Fábio Máximo. Mas, depois desses seis meses de inatividade, os cônsules Lúcio Emílio Paulo e Caio Terêncio Varrão reuniram o maior exército jamais reunido por Roma, e enfrentaram Aníbal no sul, na Batalha de Cannae. Nessa batalha pode-se ver um movimento clássico, onde Aníbal conseguiu, mesmo com inferioridade numérica de tropas, num movimento perfeito, o duplo envolvimento das tropas romanas. Esta batalha e as ações de Aníbal, que o levaram a uma vitória tão grandiosa, têm sido estudadas por militares há anos.
A Segunda Guerra Púnica (219 a.C. a 201 a.C.) começou quando Cartago invadiu uma cidade aliada dos romanos, Sagunto, na Península Ibérica. O general cartaginense Aníbal Barca, responsável pelo ataque a Sagunto, esperava a reação romana. Nascido no ano de 247 a.C. em Cartago, norte da África, esse general era filho de Amílcar Barca, que já havia enfrentado os romanos na Primeira Guerra Púnica (264a.C. a 241 a.C). Nessa ocasião, Cartago foi derrotada, e perdeu grande parte da antiga supremacia no Mediterrâneo, além do controle sobre aSicília, a Sardenha e a Córsega. Para compensar isso, os cartaginenses começaram a explorar a Península Ibérica.
Aníbal tomou a iniciativa e empreendeu uma expedição à Península Itálica, composta de aproximadamente quarenta mil homens e um grande número de elefantes. Os paquidermes eram a arma secreta doscartagineses, pois a maioria dos povos ficava assustada e fugiam diante das enormes criaturas. Em vez de utilizar a rota que seguia pela estrada beira-mar, Aníbal empregou uma travessia pelos Alpes. Foi um fato grandioso, pegando os romanos desprevenidos. Mas houve grandes custos, pois no caminho teve que enfrentar o frio e muitas tribos que lhe ofereceram combate. Os romanos, ao perceberem sua estratégia, começaram uma perseguição. Aníbal obteve sua primeira vitória sobre os romanos em Trébia, no vale do rio Pó. Na batalha a beira do lago Trasimeno, derrotou Flamínio, demostrando suas habilidades de estrategista. A estrada que circunda o lago é estreita. Simulando uma fuga durante a noite, posicionou suas tropas nas florestas à beira da estrada, e quando os romanos seguiam tentando alcançar Aníbal, eles foram atacados e massacrados sem a menor chance de defesa. Os romanos perderam mais de 15 mil soldados.
O cônsul, Quinto Fábio Máximo, vendo que seria muito difícil derrotar Aníbal, inicia uma estratégia de terra arrasada, que vinha trazendo grandes dificuldades aos cartagineses. Muitos romanos, porém, não aceitavam esse tipo de ação, achando que as legiões deveriam atacar e destruir o invasor. Então, Quinto Fábio é substituídos por Caio Terêncio Varrão. Foram formadas novas legiões e, com tropas de aliados, conseguiu-se mobilizar um exército de 80 mil soldados e cavalarianos.
Durante o inverno, a primavera e parte do verão os dois adversários permaneceram parados. Aníbal rompeu essa imobilidade. No dia 1º de agosto, manda suas tropas saírem do acampamento, mas Lúcio Emílio Paulo recusou o combate. Varrão criticou sua falta de coragem e no dia seguinte colocou o exército cedo no campo de batalha. Aníbal, por sua vez, mostrava inteligência estratégica, pois escolheu um campo de batalha que lhe era favorável, pois primeiro ficou protegido pelo rio Áufido e o Sol estaria a suas costas. Ele dividiu seu exército em três corpos principais, sendo que os flancos eram muito mais fortes que o centro. Colocou os baleáricos e a infantaria ligeira na primeira linha, em seguida os gauleses e iberos, estes ficaram um pouco a frente da infantaria pesada cartaginesa e líbia, que constituíam os flancos. Posicionou sua cavalaria nos flancos extremos, formando com isso um “V” invertido. Seu centro era mais fraco que o centro romano que utilizava a formação padrão, sendo o centro composto por legiões romanas e em seus flancos a infantaria aliada. A cavalaria romana foi dividida por igual em duas partes, sendo o flanco direito composto pela cavalaria romana e o esquerdo por aliados. Novamente, Aníbal fez diferente, colocando a cavalaria pesada no flanco esquerdo enquanto os númidas formaram o flanco direito.
Com esse posicionamento no campo de batalha, Aníbal conseguiu uma vantagem numérica em alguns setores. Como seu flanco esquerdo estava com superioridade de quase dois para um, ele toma a iniciativa e ataca, vence a cavalaria romana que estava no flanco direito com facilidade. Então sua cavalaria pesada passa por trás das fileiras romanas, atacando a retaguarda dos cavaleiros aliados que estavam posicionados à esquerda, sendo esta ala também atacada pelos númidas que estavam a sua frente. Com isso, a cavalaria romana não era mais um problema, havia fugido desordenadamente e para garantir que não voltassem, o númidas os perseguiram enquanto o restante da cavalaria cartaginesa voltava-se agora contra a retaguarda romana. Estava assim terminada a primeira fase.
Os romanos em maior número com fileiras cerradas estavam vencendo a batalha no centro do campo, forçando o frágil centro de Aníbal a recuar, Caio Terêncio Varrão vendo isso achou que conseguiria romper as linhas inimigas e vencer a batalha definitivamente e mandou que suas legiões continuassem avançando.
O centro das tropas de Aníbal continuou a recuar, mas ordenadamente, formando uma meia lua. Nesse momento Varrão, achando que os cartagineses estavam derrotados ordenou que se aumentasse a velocidade do avanço, fazendo com que as tropas romanas estivessem pressionadas por ambos os lados pela infantaria pesada cartaginesa o que dificultava as manobras dos romanos que estavam esmagados entre as forças inimigas. Era difícil até utilizarem suas espadas. Foi nesse momento que os cartagineses fizeram um movimento de 90º graus deixando assim os romanos cercados. Então a cavalaria cartaginesa que voltava à luta atacou a retaguarda da infantaria romana fechando definitivamente o cerco, os romanos não tinham para onde fugir e foram massacrados, dos aproximadamente 80 mil soldados romanos que foram ao campo de batalha pouco mais de 12 mil sobreviveram.
Os romanos, o mais poderoso e bem treinado exército da época, estavam derrotados. Tinham confiado em sua superioridade numérica. Mas, nada foi feito para tentar isolar as manobras das unidades cartaginesas, e eles simplesmente fizeram o que sempre haviam feito, avançaram. Isso se deveu provavelmente porque essa tenha sido uma das maiores batalhas que os romanos tenham participado até então.
Em Canas, os romanos não tinham tática alguma, simplesmente agiram com força bruta contra um oponente ágil e inteligente. O resultado para os romanos não podiaser mais desastroso: morreram cerca de 45 mil soldados e 7 mil cavaleiros e pelo menos 19 mil homens foram capturados.
Aníbal manda libertar os aliados italianos com a promessa de que não voltassem à guerra e exige altos resgates dos prisioneiros romanos. Varrão sobrevive à batalha e foge para Canusium (atual Canosa di Puglia) e manda avisar ao senado romano que fechem as portas da cidade, pois Roma estava agora desprotegida.
Aqui Aníbal perde a chance de concluir seu intento e atacar diretamente Roma. Esse erro acabaria por selar sua derrota no final da guerra. Depois desta derrota, Roma coloca novamente suas legiões sob comando de Quinto Fábio Máximo. Mas essa derrota serviu para mostrar aos romanos que precisavam mudar suas estratégias, e que precisavam de generais com mais inteligência e imaginação. Daí surgiram generais como Publius Cornelius Cipião, depois conhecido como Cipião o Africano, que levou a guerra às portas de Cartago e derrotou Aníbal naBatalha de Zama.
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