A tensão que explodiu entre a maioria cingalesa e budista do Sri Lanka e a minoria hinduísta tâmil se manifestou de forma clara após a independência do país do domínio britânico, em 1948. Os Tigres Tâmeis surgiram em 1976, para lutar pela criação de um Estado independente no norte do país --onde os tâmeis prevalecem, diferentemente do que ocorre no resto do país-- alegando defender o direito das minorias tâmeis diante da opressão de sucessivos governos da maioria cingalesa. O grupo é acusado pela polícia de ter matado líderes políticos e militares e utilizou frequentemente homens-bomba durante suas ações --os tâmeis são considerados pioneiros no uso sistemático de ataques suicidas por motivos políticos. Também são comuns até hoje o caso de tâmeis que ateiam fogo aos próprios corpos para chamar atenção para a causa da independência, especialmente no exterior.
A guerra aberta entre o grupo, de inspiração marxista, e o governo explodiu em 1983 e matou dezenas de milhares de pessoas em duas décadas. Os dois lados assinaram um acordo de cessar-fogo mediado pela Noruega em fevereiro de 2002, mas a violência intensificou-se em 2006, após a posse no ano anterior do presidente Mahinda Rajapaksa, que rejeitou abertamente a autonomia para os tâmeis. O governo recuperou o controle da Província Oriental, reduto dos guerrilheiros tâmeis, em 2007, e em janeiro de 2008, o governo suspendeu oficialmente o cessar-fogo. Segundo o governo, o objetivo dos combates é acabar com o grupo rebelde e encerrar a guerra civil no Sri Lanka, mas os tâmeis acusam o governo de tentativa de genocídio por continuar os bombardeios sobre uma área civil antes considerada pelo governo como uma zona segura, livre de combates.
No último dia 27 de abril, o governo anunciou o fim das operações de combate contra a guerrilha e o uso de artilharia pesada, mas os combates e bombardeios deste fim de semana mataram ao menos 400 pessoas. O governo diz que a própria guerrilha atacou os civis para ganhar a simpatia internacional --o que é negado com veemência pelos rebeldes. O número de civis presos na zona de combate também é diferente nas contas do governo e dos tâmeis. Para os guerrilheiros, são cerca de 50 mil, e o Exército diz serem cerca de 20 mil os civis que estão na área com cerca de 3 km², área equivalente a de 30 campos de futebol.
Os tâmeis são um povo majoritariamente hindu, com uma cultura antiga --há registro de comércio de tâmeis com as civilizações grega e romana, antes da era cristã. Há cerca de 60 milhões de tâmeis na Índia, principalmente no sul do país, mas as ligações com os tâmeis do Sri Lanka, que possuem uma organização de castas diferente, não é grande --os tâmeis da ilha que descendem dos indianos, concentrados no sul, levados ao país durante o domínio britânico para trabalhar nas plantações de folhas de chá, são muitas vezes considerados estrangeiros pelos tâmeis do norte e leste, que lutam pela independência. Mas a recente repressão do governo cingalês levou a um movimento de simpatia no sul da Índia por sua causa, com manifestações, suicídios públicos e locautes para pressionar o governo indiano a se manifestar contra a ação do Exército cingalês.
Segundo dados do Censo de 2001, naquele ano havia 8,5% de tâmeis no país, contando-se os que se denominam do Sri Lanka (4,6%) e indianos (3,9%), o que representaria cerca de 1,8 milhão de pessoas se tomada como base a população de 21 milhões estimada para 2009. No entanto a grande emigração de tâmeis do Sri Lanka não permite fazer uma projeção precisa.
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