A batalha que ocorreu, provavelmente, em algum lugar entre Tours e Poitiers em 732 foi um marco decisivo para a civilização cristã ocidental, pois barrou o avanço muçulmano na Europa. O exército franco, liderado por Carlos Martel, consistia principalmente de uma infantaria experiente, com algoentre 15.000 e 25.000 homens. A cavalaria dos francos, no entanto, não possuía estribos, de modo que Carlos desmontou seus cavaleiros e aumentou a força de suas falanges. A nobreza aquitaniana também estava, geralmente, na cavalaria, mas eles também desmontaram no princípio da batalha, como suporte às falanges. Respondendo à invasão muçulmana, os francos evitaram as antigas estradas romanas, na esperança de pegar os invasores de surpresa. Martel acreditava que era absolutamente essencial que ele não apenas pegasse os muçulmanos de surpresa, mas que isso lhe permitisse escolher o campo onde a batalha seria disputada - preferencialmente uma elevação, plana e coberta de árvores onde os cavaleiros islâmicos, já cansados de carregar as armaduras, seriam mais exigidos com uma subida. Depois, a floresta ajudaria os francos na sua formação defensiva por impedir parcialmente a habilidade dos cavaleiros muçulmanos em fazer um ataque direto.
Das fontes muçulmanas sobre a batalha, pode-se concluir que, de fato, eles foram realmente pegos de surpresa ao encontrar uma grande força de oposição ao seu esperado saque a Tours. Por isso, os muçulmanos esperaram por seis dias, reconhecendo o inimigo e reunindo todos os seus exércitos, de forma que uma concentração plena das forças nuçulmanas estava presente no campo de batalha, liderada pelo emir Abdul Rahman, um competente general.
No sétimo dia o exército muçulmano, formado principalmente por cavaleiros bérberes e árabes liderados por Abdul Rahman Al Ghafiqi, atacou. Durante a batalha, os francos derrotaram o exército islâmico e seu emir foi morto. Enquanto as informações ocidentais são incompletas, as árabes são bastante detalhadas descrevendo como os francos formaram um grande quadrado e lutaram uma brilhante batalha defensiva. Rahman duvidava antes da batalha que seus homens estivessem prontos para semelhante esforço e deveria tê-los feito abandonar os saques que os atrasaram, mas, ao invés disto, decidiu confiar nos seus cavaleiros, que nunca o haviam decepcionado. De fato, era impensável para uma infantaria daquela época se opor a uma cavalaria blindada.
Martel conseguiu convencer seus homens a permanecerem firmes contra uma força que lhes parecia invencível, uma grande quantidade de cavaleiros, que, além disso, era provavelmente muito superior ao número de francos. Em uma das raras ocorrências onde a infantaria medieval se levantou contra cargas de cavalaria, os disciplinados soldados francos resistiam aos assaltos mesmo que, de acordo com as fontes árabes, a cavalaria árabe várias vezes rompesse as defesas francas.
As descrições da batalha concordam que os muçulmanos romperam as defesas francas e estavam tentando matar Carlos Martel, cujos vassalos o rodearam e não foram vencidos, quando um estratagema que Carlos havia planejado antes da batalha causou conseqüências além das que ele imaginara. Tanto as fontes ocidentais como as islâmicas da batalha afirmam que em algum momento durante o ápice da luta, ainda indefinida, patrulheiros enviados por Martel ao campo muçulmano começaram a libertar prisioneiros. Temendo a perda de suas pilhagens, uma grande porção do exército muçulmano abandonou a batalha e retornou ao campo para proteger seus espólios. Na tentativa de parar o que parecia ser uma retirada, Abdul Rahman foi cercado e morto pelos francos e o que começou como um ardil terminou como uma retirada real, com o exército muçulmano fugindo do campo de batalha naquele dia. Os francos reuniram suas falanges, e descansaram no local por toda a noite, acreditando que a batalha seria retomada na manhã seguinte.
No dia seguinte, quando os muçulmanos não reiniciaram a batalha, os francos temeram uma emboscada. Carlos inicialmente acreditou que os muçulmanos estavam tentando atraí-lo ao sopé da colina e ao campo aberto, uma tática que ele resistiria a todo custo. Foi apenas após um reconhecimento abrangente do campo muçulmano - que ambas as fontes citam ter sido apressadamente abandonado, deixando para trás até mesmo as tendas, com as forças muçulmanas voltando à Península Ibérica levando consigo os espólios restantes que podiam carregar - que os soldados francos descobriram que os muçulmanos haviam se retirado durante a noite. Como as crônicas árabes revelariam depois, os generais de diferentes partes do Califado, berberes, árabes, persas e muitos mais, foram incapazes de concordar em escolher um líder para substituir Abdul Rahman como emir, ou até mesmo concordar sobre a escolha de um comandante para o dia seguinte. Apenas o emir, Abdul Rahman, tinha a Fatwa do califa e, portanto, a autoridade absoluta sobre a fidelidade dos exércitos. Com a sua morte e com as várias nacionalidades e etnias presentes em um exército formado de homens de todo o Califado, propensões políticas, raciais e étnicas e personalidades importantes os influenciaram. A inabilidade dos briguentos generais para selecionar alguém que liderasse resultou na retirada geral de um exército que talvez fosse capaz de retornar à batalha e derrotar os francos.
A habilidade de Carlos Martel teve em matar Abdul Rahman no ápice da batalha, através de um engenhoso ardil cuidadosamente planejado para causar confusão, e seus anos gastos rigorosamente treinando seus homens, foram combinados para fazer o que parecia impossível: os francos de Martel, na prática uma infantaria sem armaduras, resistiu a uma grande cavalaria pesada com lanças de seis metros e a uma cavalaria ligeira com arco-e-flecha, sem a ajuda de arcos ou armas de fogo. Isto foi uma façanha de guerra quase sem precedentes na história medieval, um feito que até mesmo as legiões romanas com suas pesadas armaduras mostraram-se incapazes de realizar contra os partos, deixando a Carlos Martel o único lugar na história como salvador da Europa e um brilhante general em uma época que não é lembrada por suas lideranças.
Muito bom porder conhecer sobre essa batalha que trouxesse mudanças consideráveis para o Reino Franco. Sempre quis saber sobre ela. Agradeço ao senhor, prof.Edir, por propiciar esse conhecimento.
ResponderExcluirGrande Abraço