História das Crises Econômicas(1)


AS CRISES NAS FORMAÇÕES ECONÔMICAS PRÉ-CAPITALISTAS


Economias coletoras do Paleolítico


Nesse estágio, os grupos humanos viviam numa situação de total dependência com relação às condições naturais. A população humana espalhada numa região era, normalmente, bastante limitada. Predominava o nomadismo de bandos ou hordas de coletores/coletores.

Economias agrícolas e pastoris do Neolítico e da Antiguidade


Com a Revolução Agrícola e a Revolução Urbana surgiu a capacidade de produzir excedente econômico e se acentuou a especialização e a divisão do trabalho. Cresceu o controle sobre a natureza e sobre as fontes de alimentação. Por outro lado, a sociedade se tornou bem mais numerosa e complexa, e passou a ser dividida em classes ou castas com funções e direitos diferenciados.
Essas economias, entretanto, ainda tinham uma grande dependência das forças naturais e eram afetadas, basicamente por fatores externos como estiagens prolongadas, inundações, pragas, esgotamento dos solos, etc. Em alguns casos, as crises estavam relacionadas também com o esgotamento da matriz energética, e isso vale para o colapso do modo de produção escravista que marcou, no ocidente, o fim da Antiguidade.
De maneira geral, as crises geradas pelas más colheitas e outros problemas eram atribuídas a fatores estranhos à economia, ou seja, a forças divinas. Naturalmente, cada cultura cria todo um conjunto de rituais mágico-religiosos, oferendas, sacrifícios cujo objetivo era influenciar essas forças da natureza ou aplacar a ira de tais divindades.

Economias antigas com certo grau de monetarização


Apesar do nível de desenvolvimento das forças produtivas ser semelhante, nessas sociedades a atividade comercial e sua tributação adquirem maior importância sobre a economia e as finanças. Nelas aparecem novos fatores geradores de crises como a inflação e os desequilíbrios entre a produção e a distribuição. Além disso, é preciso considerar os limites de um modo de produção escravista que predomina nessas economias. Além da baixíssima produtividade e da quase impossibilidade de adotar inovações tecnológicas, existem as dificuldades de garantir o abastecimento constante e regular de mão-de-obra e sua vigilância.
Surge também o desequilíbrio entre a arrecadação de impostos e os gastos governamentais com a burocracia, os exércitos regulares, as obras públicas e o que chamaríamos hoje de “gastos sociais” como distribuição de trigo e as festas e espetáculos públicos. Embora já existisse a percepção de que é possível influenciar a realidade econômica, a ciência da Antiguidade clássica nunca chegou a produzir mais do que alguns manuais práticos sobre como lidar com a economia doméstica. Em se tratando de tentativas de controle do Estado sobre a economia, podemos lembrar como exemplo o Edito Máximo (264 d.C.) do Imperador Diocleciano que, num esforço para controlar a inflação dentro do mundo romano, tabelava rigorosamente os preços e os salário em todo o Império.


Economia feudal



Na passagem da Antiguidade para a Idade Média houve, na Europa Ocidental, um retorno para uma economia agrária de subsistência, com pequena capacidade de gerar excedente. A produção estava baseada no trabalho servil e as técnicas utilizadas eram bastante rudimentares. Os feudos se mostravam como unidades econômicas fechadas com tendência à auto-suficiência. A atividade comercial e a circulação de moedas eram bastante restritas.
As crises que marcaram essa época foram causadas por fatores climáticos e pelas guerras. A fome e a peste assolavam constantemente as populações espalhadas pela Europa. Na mentalidade profundamente religiosa que caracterizou esse momento histórico, em que a Igreja de fato monopolizava a vida cultural, as crises eram entendidas como castigo ou desígnio divino. Penitências e orações eram, portanto, a única forma de enfrentar tais calamidades.
Na Baixa Idade Média, houve importantes inovações nas técnicas agrícolas e a produção voltou a crescer, para atender ao crescimento populacional. As Cruzadas reabriram Mar Mediterrâneo para o comércio entre a Europa e o Oriente. O renascimento comercial e urbano, por sua vez, fazia surgir uma nova classe social formada por comerciantes, artesãos e cambistas: a burguesia. A gradativa substituição da servidão por novas formas de exploração do trabalho, associada a uma crescente monetarização da economia, abria caminho para o nascimento do capitalismo.

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