Enfraquecidas pelos efeitos das duas guerras mundiais, as potências européias não conseguiram mais deter os movimentos de independência das suas colônias na África. É preciso lembrar, entretanto, que o termo descolonização, utilizado normalmente para denominar esse processo, que levou ao surgimento de dezenas de países no pós-guerra, é bastante impróprio. A autonomia das colônias não foi exatamente uma opção para as metrópoles, ou seja, não foi por iniciativa, ou mesmo por bom senso dos colonizadores que essa ruptura aconteceu. Pelo contrário, de maneira geral as potências européias opuseram forte resistência e tentaram impedir a emancipação das colônias. Além disso, é preciso lembrar também que, na maioria das vezes, a autonomia política não trouxe mudança nas relações de dependência econômica.
Em muitos casos, uma elite nativa formada nas universidades da metrópole assumiu a direção política desses novos países, administrando os negócios e investimentos das empreses da antiga metrópole ou dos grupos multinacionais que se instalam para explorar seus mercados e riquezas naturais. Quando, por outro lado, a independência foi conduzida por movimentos de fato comprometidos com a soberania e os interesses nacionais, as potências capitalistas, em especial os EUA, passaram a pressionar e a boicotar esses governos, usando todo tipo de expediente para desestabilizá-los, incluindo o assassinato de seus líderes.
Movimentos de diversos tipos lutaram pelo direito dos povos coloniais se auto-governarem e preservarem sua identidade cultural. Eles foram influenciados por ideologias transplantadas como o nacionalismo, o liberalismo e o socialismo que foram naturalmente adaptadas para justificar a luta dos povos africanos. Esses movimentos precisaram afirmar o orgulho da negritude e se beneficiaram do fim do mito da superioridade do branco europeu, que também foi um dos efeitos da II Guerra Mundial. Por outro lado, as potências européias, exauridas pelos efeitos do conflito, não tinham mais condições de conter os movimentos separatistas, embora em muitos casos tenham tentado reprimi-los ou negociar com os setores mais moderados uma autonomia limitada.
AS INDEPENDÊNCIAS NA ÁFRICA NEGRA
A independência de Gana, em 1957, foi o ponto de partida dos movimentos separatistas na África Negra. Em 1960, o “Ano da África”, mais de uma dezena de países proclamaram sua independência e, em meados da década, praticamente todo o continente tinha se libertado da dominação inglesa e francesa. Na maioria dos casos, a emancipação política foi negociada com as metrópoles. As colônias portuguesas, entretanto, só conseguiram atingir a independência na década de 70. A ditadura salazarista tentou impedir a libertação dos domínios portugueses na África através de uma política de repressão violenta aos movimentos separatistas. Com a Revolução dos Cravos (1974), o governo democrático instalado em Portugal passou a negociar o reconhecimento das independências de Angola, Moçambique, Cabo Verde e Guiné-Bissau, que foram oficialmente proclamadas em 1975.
Rivalidades étnicas e tribais, além do interesse dos trustes internacionais que exploram as riquezas da região, motivaram conflitos internos e movimentos separatistas em várias partes do continente. Destacam-se os conflitos no Congo (Katanga) entre 1960-63 e na Nigéria (Biafra) entre 1967-70. Nas ex-colônias portuguesas um longo período de guerra civil se estendeu até a década de 1990, pois guerrilhas de direita apoiados e financiados pelos EUA e pela África do Sul hostilizaram os governos de tendência socialistas que haviam assumido o poder após a independência. Na África do Sul, onde a minoria branca havia instalado um regime de segregação racial institucionalizada, a luta contra o chamado “apartheid” foi organizada pelo Congresso Nacional Africano e liderada pro Nelson Mandela, que passou muitos anos preso junto com outros líderes negros. A libertação de Mandela e o fim do regime de segregação só se dariam no fim da década de 80.
Comentários
Postar um comentário