OS FILÓSOFOS DA NATUREZA
Diante dos fenômenos, que todos os dias a natureza apresenta, o homem experimenta diversos sentimentos – medo incompreensão, admiração e perplexidade. São justamente esses sentimentos que levam-no à filosofia. Ao espanto ou thauma que toma conta do homem seguem-se perguntas intrigantes. O que é a natureza? Como surgiram as coisas e porque elas se transformam? Existe uma ordem na natureza ou ela é um caos sem nexo? Mas é preciso lembrar que para os gregos, a palavra physis se refere à natureza como realidade que se encontra em movimento e transformação. Significa gênese, origem e manifestação do mundo ao mesmo tempo.
Os primeiros filósofos surgiram na Jônia, colônia grega no litoral ocidental da Ásia Menor. O ponto de partida de suas reflexões foi, certamente, a constatação de que existe uma permanente transformação na natureza, e a intuição básica de que todas as coisas são uma só coisa ou princípio fundamental. A arché seria não só a substância primordial a partir da qual tudo se originou, mas a essência que a todo instante é a coisa fundamental e irredutível que constitui todos os seres. Desses primeiros pensadores e de suas idéias nos chegaram apenas alguns fragmentos e relatos feitos por outros filósofos, especialmente Aristóteles. Entre os chamados “filósofos da natureza”, como eles são conhecidos, destacam-se: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
TALES DE MILETO (640-562 a.C.)
É considerado, pela tradição clássica, o primeiro filósofo. Se por um lado forneceu o estereótipo do filósofo distraído, mergulhado em suas reflexões, por outro conta-se que prosperou como comerciante graças à sua habilidade e argúcia. Tornou-se célebre por suas especulações e descobertas na matemática, mas em sua época já era famoso por ter previsto um eclipso do sol (585a.C.). Para Tales tudo se origina na água. A physis teria como único princípio esse elemento natural que está presente em tudo. Segundo ele, a água ao se resfriar torna-se densa e dá origem à terra. Ao se aquecer transforma-se em vapor e ar, que retornam como chuva quando novamente resfriados. Desse ciclo nasceriam, por sua vez as diversas formas de vida vegetal e animal.
ANAXIMANDRO DE MILETO (610-547 a.C.)
Acreditava que não era possível, dentre tantos elementos presentes na natureza, apontar uma única substância material como princípio primordial de todos os seres. Para Anaximandro esse princípio é algo que transcende os limites do observável, ou seja, não está ao alcance dos nossos sentidos. Por isso ele o denominou ápeiron, ou seja, o indeterminado ou infinito, que seria a matéria geradora de todas as coisas.
ANAXÍMENES DE MILETO (588-524 a.C.)
Tentando conciliar as concepções anteriores, afirmou que a substância primordial que originava todas as coisas é o ar. Apesar de ser um elemento invisível e imponderável, o ar é observável e pode-se percebe-lo como a força vital que anima o mundo. O fogo seria o ar rarefeito e a água e a terra seriam formas condensadas do ar. Tudo que existe representa uma variação quantitativa desse único elemento.
PITÁGORAS DE SAMOS (570-490 a.C. aproximadamente)
Foi perseguido em sua cidade natal e por isso, teria se instalado em Crotona no sul da Itália onde fundou uma influente corrente filosófica, verdadeira seita religiosa. Os pitagóricos representam um marco decisivo no desenvolvimento do pensamento racional ao introduzirem um aspecto mais formal, caracterizado pela ordem e regularidade, na explicação da realidade. Para Pitágoras, a essência de todos as coisas reside nos números. É preciso lembrar que até Platão, se entendia que qualquer coisa que existe (e os números “existem”) existe de alguma forma corpórea. Assim, a arché teria uma estrutura matemática da qual derivariam questões como finito e infinito, par e ímpar, reta e curva, masculino e feminino, bem e mal, etc. A harmonia entre esses princípios opostos mas complementares existe quando há uma medida justa, exata de cada um. A falta dessa harmonia causa desordem no mundo, tanto no seu aspecto biológico como no plano moral e político. O pitagorismo desenvolveu, também, a crença na imortalidade da alma e na reencarnação. Esse desprezo e desconfiança com relação ao corpo sensível, que seria a prisão da alma, e a ênfase no espiritual e inteligível, exerceriam forte influência sobre a evolução do pensamento.
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