Filosofia: A Consciência e suas Formas


A CONSCIÊNCIA DE SI E DO MUNDO
O que melhor diferencia o ser humano das outras formas de existência é a consciência. Se a Antropologia e a Ciência, de modo geral, se referem ao homem atual como homo sapiens sapiens, isso se deve ao fato de que ele é um ser que sabe que sabe, isto é, sabe que existe e está no mundo. Esse ser/estar no mundo com ciência dessa realidade é o que nos particulariza entre todos os seres. O homem sabe que sabe, logo, a consciência é um conhecimento, em primeiro lugar, das coisas e de si próprio, e, em um segundo plano, um conhecimento desse conhecimento, ou seja, aquilo que em filosofia chamamos de reflexão).
É no aprofundamento desse processo de conhecimento interior e exterior, num movimento dialético eu→mundo / mundo→eu, que se dá o despertar da consciência crítica. Dotado dessa criticidade, o indivíduo é capaz de compreender sua condição física, mental, social, cultural e histórica, gozando de liberdade para fazer suas escolhas e agir dentro de seus limites morais.
A consciência, como forma de o ser humano relacionar-se com a realidade, pode se dar de diversas formas:

CONSCIÊNCIA RACIONAL
Trata-se da tentativa de compreender a realidade por meio de princípios estabelecidos pela razão, como a observação de relações de causa e efeito, por exemplo. Busca-se, portanto, adequar pensamento e realidade.
A ciência e a filosofia são campos do saber racional. A ciência, a partir da experimentação, observa os fatos, organizando de forma especializada os dados colhidos em teorias capazes de demonstrar o que é universal em relação ao fenômeno estudado. A filosofia, por seu turno, não busca a descrição objetiva e especializada da realidade, mas uma avaliação crítica e global do mundo que nos cerca.


CONSCIÊNCIA MÍTICA E RELIGIOSA
A tradição filosófica moderna, sobretudo a partir do Iluminismo, afirma que há uma evolução do mito (irracional) à lógica (racionalidade), sendo esta a etapa posterior e evoluída do pensamento e da civilização. Não é à toa que o mito é hoje associado, em geral, à idéia falsa, desprovida de credibilidade.
Embora não seja um conhecimento do tipo racional, o mito foi e continua sendo uma forma de explicar a realidade, de transmitir valores e de atribuir significado à vida humana. Diferencia-se do conhecimento conceitual e objetivo, pois relaciona o humano ao sagrado e à natureza através de processos simbólicos, metafóricos.
A consciência religiosa aproxima-se da consciência mítica por seu caráter metafísico, ou seja, por buscar explicações para a existência em um universo não material. Nesse caso as verdades são reveladas por força da fé religiosa.

CONSCIÊNCIA INTUITIVA
A intuição é uma forma de conhecimento imediata, que ocorre de forma repentina (insight), diferenciando-se do processo lógico, sistemático que pauta o saber racional.
Para Aristóteles existiriam duas formas de saber intuitivo:
▪ Intuição intelectual: conhecimento imediato de algo universalmente válido e evidente, que poderia ser demonstrado racionalmente, através de argumentos.
▪ Intuição sensível: conhecimento imediato restrito ao contexto das experiências individuais, singulares.
De qualquer forma, a consciência intuitiva pode servir de mediação ao conhecimento racional.

SENSO COMUM
Todos nós fazemos julgamentos, emitimos opiniões sobre a realidade. O senso comum constitui-se como um conjunto de conhecimentos intuitivos admitidos como verdade por um grupo social e que tende à universalidade. Esses saberes intuitivos podem facilmente ser identificados com o que conhecemos por “sabedoria popular”. Embora não dotadas de caráter científico, as formulações do senso comum atendem, de certo modo, às necessidades de orientação para a vida prática das pessoas.
Por outro lado, esse conhecimento pode conter idéias falsas ou preconceituosas. Nesse sentido, podemos dizer que a característica elementar do senso comum é a ausência de criticidade em sua concepção. Não existem bases críticas, precisas e sistemáticas para se chegar às “verdades” que ele estabelece. O senso comum acaba por conferir a um conhecimento prático, comum e cotidiano um status de verdade absoluta e definitiva.

FILOSOFIA E CONSCIÊNCIA CRÍTICA
Historicamente, a palavra filosofia teria sido cunhada por Pitágoras (Séc. VI a.C.), que se dizia “amante do saber”. Assim, o sentido original de filosofia, implica a noção de busca da verdade.
Com o decorrer do tempo, na própria Grécia Antiga, a noção de filosofia passa a encerrar um tipo específico de saber: o conhecimento que surge a parir do uso metódico da razão, confundindo-se com a idéia de saber científico (matemática, astronomia, física, biologia, lógica, ética seriam ramos da filosofia). Essa concepção universalista subsistiu até a Idade Média.
Com a Idade Moderna e com a especialização do saber científico a filosofia passa a assumir uma natureza reflexiva, no sentido de investigar a validade de critérios e métodos das ciências agora autônomas. Mais do que isso, a filosofia passou a voltar-se para a investigação do ser, do conhecer e do valor das coisas.
Em síntese, podemos compreender o papel da filosofia hoje como instrumento para o questionamento da realidade, como um caminho para superar as distorções do senso comum no sentido de encontrar respostas mais satisfatórias acerca do sentido e do valor da existência.

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